sexta-feira

Numa sala fresca e antiga, ali para os lados do Campo Mártires da Pátria existe um sofá confortável e acolhedor. Se pudesse mudava-me para esta sala fresca e ampla, quase insonorizada com janelas sobre a cidade barulhenta e atribulada com miradouros verdes e labirínticos que oferecem vistas sobre Lisboa.
O de hoje retribuí uma Lisboa fantasma, apenas com vista para as janelas dos prédios mais altos. As árvores tapam as ruas e os restantes espaços que possam acolher gente. E o meu olhar segue uma colina cheia de quintais semi abandonados, apenas povoados por gatos preguiçosos e vadios.
O calor afasta-nos das ruas e de repente parece que estamos na hora da sesta. Ando pela rua como se estivesse em pleno deserto, procurando as sombras reduzidas nos passeios. Quase que tenho visões de um oásis distante. Uma pequena casa de adobe com 2 banquinhos à porta, janelas pequenas com grades rocócó azuis e protecção para os mosquitos e outros bichos que tais.
Ao entrar na pequena casa cor de barro saboreio um ar mais leve e fresco, descalço os sapatos e sinto os tapetes amarelos, verdes, azuis debaixo das plantas dos pés. Espera por mim um colchão florido e um contador de histórias de olhar triste e melancólico.
Sozinho e de olhos fechados, canta histórias de sofrimento, também de crença numa vida melhor. Canta os antepassados e a chegada das caravanas com novidades frescas que vêm do outro lado das dunas.
Adormeço com as palmas e vozes quentes e aconchegantes que cantam e enchem a sala. Passaram lá para fora e agora os batuques tomam conta da noite do deserto, que nos protege com o manto brilhante das estrelas, baixinhas como se lhes pudéssemos tocar e levar para casa.
Ilusão! As estrelas não se guardam. Existem para nos guiar e iluminar os caminhos. Não se deixam apanhar, só aparecem quando lhes dá na gana e nunca, nunca admitem que as guardemos nos bolsos para quando precisamos delas. São de todos.
Esta foi a alucinação que tive quando andava na rua. Caminhos de terra batida, castanhos claro, dunas gigantes que abrigam vales fofos de grãos de areia, vilas fantasmas à hora de mais calor, mercados coloridos, cafés e lojas desertas de gente. Aqui e ali um ponto de cor, gente tapada com panos coloridos, crianças a jogar futebol com uma bola improvisada. Na linha do horizonte uma cidade ladeada por tamareiras verdes. Envolvidos na vegetação advinham-se castelos encantados, casas fortificadas com pátios coloridos e aconchegantes. No meio, fontes e lagos, sapos e plantas verdes.
O sol é abrasador e seguimos pela estrada de terra batida, na esquina de um dos caminhos entramos para uma casa construída abaixo do chão, uma gruta cor de laranja, habitada por um gigante negro, de voz doce e olhar meigo.
Tenho uns amigos que vieram do deserto há pouco tempo, vi as fotos, aquelas cores. Tudo junto com o calor que se faz sentir nesta cidade tive uma série de visões e alucinações. A minha memória foi assaltada pelas recordações de tranquilidade e descoberta do deserto. Das pessoas que vagueiam pelas ruas, assoladas por uma estranha calma, enrolados nos inúmeros panos que os cobrem, lembrei-me dos cheiros e sabores fortes. Os olhares vazios e inexpressivos de quem contempla o infinito. Acucorados numa estrada deserta e quente, esperam não sei muito bem o quê. Mas esperam com calma e sossego, aproveitam para observar o que os rodeia, conhecer o sitío onde moram. O deserto esconde muitos mistérios, transforma-se a uma velocidade fascinante e imparável, cobre estradas, tapa casas, engole pessoas e animais.
Cria confusão e vazio e de repente entrenha-se no corpo e na memória, torna-nos prisoneiros da sua tranquilidade, ensina-nos que numa paisagem aparentemente linear e monótona se esconde um mundo de possibilidades e encantos.

1 comentário:

Anónimo disse...

eheheh! ai ai ai

para quando essa famosa viagem ao deserto... tanto planos, tantos, tantos... e agora as obrigações laborais a entreporem-se... :|

com o calor q faz hoje, eu é q acho q alucino... e vou trabalhar em agosto! :| enfim enfim...

até daqui a uns 12 dias, checka lá a cena do ticket sim sista?!

beijo nos caracois ;) ***