terça-feira

Quase a partir_um bocadinho antes de estalar!!

Vou de férias e sinto-me como se já não estivesse aqui! São apenas 4 dias, mas vai-me saber tão bem não ter responsabilidades de maior, não ter que falar com mais de cinco pessoas ao mesmo tempo, de ter que preocupar com os atrasos dos meus funcionários e todas as suas crises laborais, pessoais e tudo o que lhes ocorre diariamente.

E como quando se vai passar alguma de coisa diferente fico ansiosa e impaciente, neste momento estou mais impaciente que uma criança a cinco minutos de acabar as aulas. É uma chatice que os dias de férias sejam tão parcos. Na função que exerço e que implica o contacto directo com pessoas, os dias de férias deveriam ser mais. Gosto e sempre gostei de gente, apesar de todos os defeitos que temos e apesar da natureza retorcida dos seres humanos, não raras vezes e ao fim do dia, gosto menos deles do que o contrário, mas no outro dia tudo volta ao normal, nada pode ser tão dramático, porém é difícil não achar que deveria ter mais dias de férias.

Tal como os professores deveriam ter acompanhamento psicológico e deveriam fazer uns retiros periódicos patrocinados pelo Estado para uns conventos budistas, também eu e os meus colegas que desempenhamos estas funções deveríamos ter todos os meses dias de descanso ou pelo menos uma tarde ou outra sem trabalhar.

Ao fim de 6 meses e consequentemente, no fim do meu contracto de trabalho inicial, confesso que me sinto exausta, quase fora de mim. Começo-me a ver de fora, em piloto automático, sem força ou energia para grandes coisas e parece-me que 4 dias é tão pouquinho que me apetece chorar!


Balanço: Trabalhar não é nada de especial, aliás, é um mal necessário. Invariavelmente esta empresa é uma seca e trata mal os seus funcionários, este trabalho é capaz de me matar de tédio se não arranjar outra coisa mais interessante para fazer num futuro próximo.

Aliás, quando comecei a trabalhar aqui pensei que não iria procurar actividades na minha área tão cedo, apenas não o fiz durante os três primeiros meses, agora, todos os dias contínuo com a mesma rotina de responder a anúncios, de enviar cv´s e até recomecei a ir a entrevistas. Porém, também sei que me posso instalar e até desistir de procurar algo de mais gratificante e este medo constante têm-me mantido alerta, a magicar o que poderei fazer que potencie pelo menos está experiência como coordenadora.

Falava com uma colega hoje ao lanche, que também tirou o curso de jornalismo e que trabalha aqui há 4 anos, que é uma frustração termos investido tanto trabalho e estudo numa área e não a podermos exercer, é frustrante as nossas expectativas não se concretizarem. Claro que podíamos estar bem pior, sem emprego, dependentes dos pais, em casa deles, sem qualquer perspectiva de futuro ou hipóteses de andar para a frente ou rever as nossas vocações. Inevitável e imutável é a morte. Mas custa...

Quero acreditar que tudo tem uma razão de ser e que o facto de aqui estar, me poderá fazer rever o que projectei para a minha vida profissional, também quero acreditar que me faz rever e descobrir competências e vocações, facilidades e dificuldades, pontos fortes e fracos. Põem-me à prova todos os dias, põem à prova a minha vontade. Não ponho é nunca em causa a minha autonomia, a autonomia que este trabalho por mais que não seja eu, me oferece e isso tem mais vantagens que desvantagens.

Também chego à conclusão que sou uma pessoa optimista que não coloca nada fora de cogitação. Esta função permitiu-me conhecer outras capacidades, outra Mariny. Relativamente à relação que estabeleci com os membros da equipa que coordeno, nem tudo são rosas sem espinhos, porque de resto acho que consegui lá chegar, com mais ou menos desespero e confesso, algum autoritarismo de vez em quando.

Por acaso, até acho que tive algumas provas de como eles nutrem algum afecto por mim, respeito e consideração, entre a graxa inerente à minha posição e o sentimento real, acho que não me engano muito. É sempre uma relação difícil e atribulada, talvez das mais estranhas que já experimentei, ambígua e periclitante. Muitas e não raras vezes, a culpa do que se passa aqui dentro e com o trabalho que desenvolvemos é minha, descobri que os seres humanos têm que ter sempre um bode expiatório, basicamente a culpa não pode morrer solteira e poucas ou nenhumas vezes assumimos a nossa responsabilidade no decorrer dos acontecimentos ou envolvimento nas situações, especialmente quando ocupamos posições precárias, caso de toda a equipa que coordeno.

Conheci condições e situações estes últimos seis meses que ainda não consigo decifrar muito bem, tenho dentro de mim sentimentos contraditórios e raciocínios quem nem sempre me parecem lógicos ou que sejam fáceis de explicar e explanar acerca dos comportamentos laborais dos meus semelhantes, que muitas vezes revelam muito do que somos. Sei que fiquei muitas vezes surpreendida com as pessoas com as situações com as vidas e também admito que fiquei muitas vezes inspirada e enquanto assim for, enquanto me continuar a inspirar e a descobrir novas capacidades em mim, serei leve, optimista e porque sou mais feliz e consciente, terei mais forças para mudar o que não estava previsto, afinal estou só no início do caminho

sexta-feira

B de brilhante, de bela, de bestial! B de Beyoncé!

Não resisti e fui ver Beyoncé com a minha irmã e apesar de lá ter chegado já o concerto tinha começado, rapidamente passei da admiração à rendição total aos pés da Diva! Os primeiros vinte minutos foram de choque e de impacto. O palco, a Beyoncé, o corpo de bailarinos, o profissionalismo, o brilho e a sensualidade da miúda, tudo junto é um cocktail em pêras.

Depois da habituação, soltei o corpo e misturei-me no público heterogéneo que assistia ao espectáculo. Pré-adolescentes, grupo de gajos completamente doidos, mas animados, pais que acompanhavam os pigmeus que eram como cogumelos no Pavilhão Atlântico, casais, grupos de jovens adultos, gays...enfim, a diva que é Diva chega a todos e no fundo, o espectáculo que a Beyoncé apresenta é um espectáculo para massas, agrada a todos, deixa-nos satisfeitos, luz, cor, animação e música fácil.

O "American way of life" esteve ali presente, o sonho americano está ao alcance de todos e numa produção quase familiar, Beyoncé contínua acompanhada pelo pai (manager) e pela mãe(estilista), o melhor do que a América e o showbizz tem para oferecer estiveram em cima daquele palco. Ao longo daquelas duas horas a Diva não desafinou e não desiludiu, sempre em grande estilo, bem vestida ou talvez bem despida, comandou um exército de bailarinos apetitosos e apetitosas, igualmente bem vestidos e vistosos. A banda de suporte arrasou, só constituída por mulheres fechou o livro mais que uma vez. Especialmente a baixista que num solo interpretou vários temas da música negra e ainda acabou a lamber sensualmente o baixo.

Não é possível assim, toda a gente naquele palco era sensual e sexy q.b. e isso é de admirar. A sensualidade de Beyoncé e da sua trupe nunca caíram na ordinarice, nem nunca ali se viu momentos vulgares, sempre a manter a chama acessa, muitas vezes chegaram ao topo do brilhantismo e do bom gosto possível que agrade a gregos e troianos.

Há uns anos, no Rock in Rio vi o concerto da Britney e nessa altura a Britney era considerada a princesa da pop, no entanto, ao vivo e a cores, desiludiu e fraudeou o pessoal, cantou em playback, deu canas de tal forma incríveis que olhando agora para trás e sabendo a fase de decadência que vive, mais parecia uma noite de futurologia encabeçado pela própria. Confesso que fiquei chateada e disse que não queria ver mais nenhum concerto de gente do showbizz, mas pronto, lá fui e ainda bem. As Divas ainda existem e podem ser competentes. É verdade que houve uma exagerada promoção da imagem da Beyoncé e também e é verdade que passei por alguns momentos de seca, mas o balanço final é positivo, muito positivo. Se ela voltar, eu volto também!


segunda-feira

Dias tristes

Há dias e noites tão tristes que a simples explicação que a natureza tem de seguir o seu curso não me consola! Sinto-me como se um bocadinho de mim, um bocadinho tão importante e essencial tivesse sido levado, roubado...

Bem sei que o legado que me foi deixado é bem mais importante e essencial que este bocadinho, pequenino e essencial que me foi tirado que ainda por cima, é sinónimo de descanso de quem sofreu e de quem tanto fez por mim, todos os dias da vida dele foram passados a pensar nos outros, todos os dias da vida do meu querido avô contemplavam o bem alheio!!

Ele foi um instrumento da solidariedade humana, não acreditava grandes coisas em Deus e eu acho que não acreditava porque não precisava de intermediários para falar com um suposto bem maior, não precisava porque dentro dele estavam as ferramentas que fazem de nós humanos, gentis, solidários e excepcionais. E não achava que fazia nada de especial, se não a sua obrigação.

Saiu da escola para trabalhar e pagar os estudos ao irmão mais novo. Desde cedo que trabalhou e mesmo quando estava a descansar, interrompia o seu descanso para fazer o que se impunha. Não fugia às responsabilidades e deveres. Ensinou-me a viver apenas com o necessário, ensinou-me a respeitar o próximo, a dar amor sem esperar receber, a ser honesta, a dar valor ao meu trabalho, a dar valor a mim própria, mimava-me como se não houvesse amanhã. Ensinou-me a nadar, ensinou-me a não ter medo, estudava comigo, adormecia-me, acalmava-me as noites de pesadelos, mas também me dizia o que não devia fazer, reaprendia-me e ralhava-me. Educou-me, mesmo depois de ter criado as filhas, perdeu noites de sonos por mim, eu durante anos fui a sua primeira preocupação. Sei-o e sinto-o, tal como o sabia e sentia quando era pequenina e passava a vida agarrada ao meu avô, a sombra do meu avô.

Sombra que dividia com o meu primo nas férias, atenção que dava para os dois, de igual forma, sempre com o mesmo amor e carinho. O que este meu avô me ensinou e me deu, não poderei nunca expressar. Não lhe disse, mas acho que ele sabe o quanto é importante na minha vida e na vida do meu primo, o quanto foi e é importante na nossa família. A gratidão que lhe tenho só pode ser expressa se lhe seguir as pisadas e tomar a sua rectidão de carácter como minha, porém, eu tenho defeitos e o meu avô não, não se dava a esse luxo e parecia que não lhe custava.


A minha avó, a minha duende, que mais parece uma boneca de porcelana de tão frágil que está, disse-me que lhe dei a última morada, que seja, desdobrei-me em 48 horas para lhe dar um funeral simples como ele. Escolhi-lhe a roupa, escolhi-lhe o caixão, decidi onde o iríamos colocar, escolhi-lhe as flores. No fim, quando o recebi naquela sala branca e vazia, não acreditava que era ele que traziam, não acreditei e fui ver. O meu coração ficou que parecia que ia saltar do corpo, mas fiquei com a certeza que era o meu maior anjo da guarda que agora descansa, num pomar cheio de árvores de fruta, animais e um riacho. Igual ao que existia mesmo ao pé da casa onde o meu avô cresceu.

Tenho plena consciência que a pessoa que ficou naquele cemitério já não é o meu avô, ali descansa o seu corpo velhinho, o seu espírito está comigo e com todos aqueles a quem o meu avô tocou na sua eterna gentileza e humanidade. Felizmente, na minha vida tenho mais gente assim, devia estar contente por ter tantas estrelinhas que me guiam, hei-de me habituar à tua ausência, mas não te esquecerei.

terça-feira


Quando leio notícias destas: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1293327 (Helena Rego pertencente ao SIS declarou numa conferência que Portugal tem sido palco de movimentações de membros extremistas islâmicos) e de seguida vejo os comentários feitos pelos leitores, fico parva como as pessoas conseguem confundir tudo. Direitos humanos com combate à criminalidade e terrorismo ( um dos leitores comenta que Ana Gomes, conhecida personalidade ligada à luta pelos Direitos Humanos) lhes deve dar protecção e que com certeza, os extremistas entraram em Portugal com o seu avale, isto porque a senhora acha que devemos ter cuidado com a instrumentalização dos direitos adquiridos e humanos e o consequente combate ao terrorismo. Parece-me que é uma ideia pertinente esta da Ana Gomes e bastante clara.

Depois outro leitor escreve que o SIS anda preocupado com a extrema direita e pouco mais, ora ainda bem que o SIS se preocupa com as actividades criminosas e extremistas dessa gente, no entanto, também existem outros departamentos que se preocuparão com a entrada de terroristas islâmicos no território nacional; ainda há um senhor que pede colocação de câmaras de vídeo-vigilância nas mesquitas, nas comunidades islâmicas, sem qualquer respeito pela privacidade destas pessoas, mesmo tendo a especialista dos Serviços de Informação explicado que a comunidade islâmica em Portugal está bem integrada e não apresenta grandes preocupações, sendo que mesmo que apresentasse não é com câmaras de vigilância espalhadas pelo quotidiano destas pessoas que alguma vez vamos combater as posições extremistas de quem quer que seja.

O terrorismo e o extremismo islâmico combate-se com a uma atitude clara de combate à pobreza e exclusão, combatem-se com a educação e com a quebra do ciclo de pobreza extrema em que estas pessoas vivem. O extremismo islâmico, o extremismo de direita, o sectarismo e todas essas correntes parentes umas das outras e filhas da miséria humana e da pobreza de espírito combatem-se com uma clara democratização do acesso às ferramentas que façam os seres-humanos andarem para a frente e sentirem que a sua vida é mais que a sobrevivência diária. Não sendo preciso para isto forçar reformas ou revoluções nos países daqueles que olham a vida de forma oposta dos do Ocidente.

Sei que vejo todos estes assuntos com demasiado relativismo e que existem valores humanos que são universais e blá, blá. Pois existem, mas para os aprendermos temos que ser ensinados a tal, temos de ter modelos de referência e acima de tudo temos que ser estimulados para respeitar a vida do nosso semelhante, bem como os seus hábitos, cultura, religião e opinião.

Não é assim tão difícil, não acredito que exista um choque de civilizações, há é um choque de interesses que pode ser entre o Ocidente e o Mundo Islâmico como entre o Chineses e qualquer outro povo ou civilização e uma falta de vontade política de ambos os lados para acabar com as clivagens que se vivem a nível mundial.


sábado

Enquanto vi Lisboa da janela mais bonita pela qual espreitei para a rua, num dia por demais solarengo, esta estória visitou-me:

"O meu avô que cheirava a lavanda e tinha uma perna torta, vestia-se com tecidos requintados e rodeava-se de finos materiais. A sua casa cheia de rectractos passados de pessoas feias e narigudas, misturavam-se com os barulhos que o chão fazia quando eu corria da entrada para a casa-de-banho branca, imaculada, asséptica. Mobiliário metálico, branco com pequenas aplicações florais... Ao lado, uma toalha de linho que durava apenas uma tarde primaveril de brincadeira.

Na cozinha, onde lanchavam as crianças os panos e paninhos eram muitos. Padrões coloridos estendidos nas mesas, tecidos aos quadradinhos revestiam as tampas de frascos de compotas.

A minha avó, uma mulata aburguesada, tinha por seu domínio a dispensa revestida a prateleiras de madeira, do tecto ao chão. Ás mais altas alcançava de escadote, daqueles parecidos com a farmácia do outro avô. Na despensa tão desejada, residiam as caixas e caixinhas com motivos vários e variados, albergavam as bolachas, os biscoitos, o arroz, a farinha que eram a matéria- prima das fartas refeições que tomávamos na cozinha. A sala, reservada aos adultos, tinha uma grande e comprida mesas. Aí os tecidos eram mais requintados e austeros. Tão austeros como os donos: a mulata aburguesada que perdeu a ginga do andar tropical e o velho que desde os 30 anos tinha o cabelo branco e teimosamente escondia de todos a sua sabedoria e conhecimento que os seus olhos claros viram.

Casa austera, poucas vezes se deixou envolver totalmente pelas gargalhadas das crianças e como os tecidos e padrões, que de divisão para divisão simbolicamente compartimentavam quem ali se sentava, também os distantes donos se cobriam da cabeça aos pés, de cores e tactos rudes".