sexta-feira

Bebé chorão

O céu nem sempre está azul, o sol nem sempre brilha e nos aquece os pezinhos e também por isso, nem tudo é sempre cor de rosa, sem dúvidas e com certezas tranquilizantes.

Sigo por esta estradinha de tijolos que vai unindo os dias e as noites, por vezes paro nos jardins e sento-me nos bancos, acompanhada por caras e sorrisos familiares outros nem tanto, por vezes dou por mim a olhar, sozinha nos miradouros que ladeiam a estradinha de tijolos que percorro diariamente, vezes há que descanso nos abrigos dado pelas copas das árvores, outras que me escondo e protejo das chuvas nas casa de madeira que vou encontrando, numas caí água e ouço o vento a querer entrar pelas frinchas da madeira gasta da porta frágil que fecho atrás de mim, por vezes encontro moradias modernas, robustas e luxuosas, entro e sento-me descansada à lareira e usufruo do aconchego do lar, mas as que me dão mais prazer entrar são as que vazias rapidamente se tornam minhas.

Já lá vão seis casas e muitos amigos, estórias, aventuras e gargalhadas e em todas elas chorei, chorei até ficar sem ar, lágrimas que caem pelo meu rosto porque não podem ficar mais nos saquinhos lacrimais, não aguento a pressão e tantas vezes não sei porque aconteceu e fui sempre feliz em todas elas e sempre senti que a mudança de uma para a outra é feita de forma sequencial, uma montanha que vou trepando e agora, que parece que cheguei a algum lado, vejo do alto do prédio, uma cidade que me acolheu e me transformou.

É verdade, estou aqui há menos de um mês e já chorei. Parece-me que vou chorar muito mais, mas as gargalhas que já dei nestas quatro paredes, em pouco menos de um mês, parecem compensar todas as gotas de água que possam deslizar pelas minhas bochechas gordinhas e de eterno bebé!

quinta-feira

Quadros e fotografias

Tudo está diferente novamente: nova casa, a cidade vista de um outro prisma, lá no fundo o castelo de S. Jorge, os miradouros, a Sé e num plano mais abaixo, o rio, recortado no meio das casas, mais uma vez parece que faz parte de um lago, desta vez, é mais uma baía.


Em frente à janela da cozinha, cá do alto do quarto falso andar, porque no fundo são cinco lances de escadas, tenho um pano pintado, recortes de casas coladas nos socalcos das colinas que fazem de Lisboa a cidade bonita que é. Daqui de cima, sinto a claridade branca desta cidade, faça ou não sol a bruma que a envolve está presente sempre.

Contemplo a cidade de cima para o vale, o eixo oriental da cidade ou a Av. Almirante Reis como é conhecida e não vejo carros, nem pessoas, apenas uma sucessão de quadros realistas, fotografias que em dias enublados parecem ser a preto e branco, um papel cenário, aqui e ali, um aglomerado verde, aqui e ali casas pintadas com os tons claros de Lisboa, os cor de rosa pombalinos, os verde água, os azuis a fugir para o bebé e o amarelo tão característico de Lisboa!

Daqui de cima imagino vidas e casas, mesmo abaixo da minha janela um concentrado de armazéns abandonados com os telhados cheios de gatos que apanham banhos de sol lascivamente deitados na chapa gasta.