Adérito é Deus!!
Acabei de apagar sem querer o início de um post diferente deste. Foi depois de telefonar para casa de um colaborador do estudo e me terem dito que o rapaz faleceu. Fiquei nervosa...
Imagino, por vezes, como será a vida com quem falo ao telefone todos os dias, alguns até me conhecem e tratam como se fosse a menina da tabacaria ao pé de casa ou como se fosse a padeira ou coisa que o valha. A intimidade, que não o sendo, se adquire pelo hábito reiterado de lhes telefonar. A familariedade de uma cara conhecida, transportada para uma voz.
No início espantava-me como as pessoas são capazes de falar sobre a sua vida a uma estranha e há medida que ia tentando perceber o que se passa com os seus computadores, conhecer também uma ou outra história destas pessoas.
Um senhor que me dizia que não podia continuar a colaborar porque tinha saído de casa e o pc tnha ficado com a ex-mulher e as filhas. Pedi-lhe autorização para recrutar a filha para continuar a colaborar no estudo. O senhor disse que sim, não haveria problema, a miúda já está habituada. Arrastaram-se vários meses e não consegui falar com a miúda. No dia em que consigo falar com alguém daquela casa, atende-me o suposto ex-marido.
Voltaram ao casamento, voltaram a tentar. Dizia ele que "Graças a Deus já passou, foi uma fase má". Até ficaram sem computador durante uns tempos, mas que agora está tudo bem e têm muito gosto em colaborar novamente. Falei também com a mulher: " O meu marido trabalha até tarde e tal, mas já tá em casa novamente..."
Fico contente que duas pessoas desavindas afinal não estejam assim tão equívocadas! Também há o caso dos participantes que ligam muito ofendidos a dizer que está uma pessoa no seu agregado familiar que já não vive naquela casa "Faça o favor de tirar essa senhora daí, já cá não vive" , estas são as situações em que os colaboradores usam a linha telefónica grátis. Para repôr a verdade dos seus agregados familiares.
Falei com um senhor que tinha 3 filhos, quando confirmava uns dados que não me recordo quais eram e envolviam toda a família, exclamou bruscamente que aquela pessoa por mim mencionada já não existia. O tom de voz foi tão rispído que não me atrevi a perguntar mais nada. Desactivei aquela pessoa, deixou de existir!
Situações engraçadas e rídiculas também se passam, tipo um senhor que tinha 2 computadores e ficou sem nenhum numa tempestade. Cairam-lhe uns quantas raios em cima da casa e lá foram uns electrodomésticos. Cómico porque o próprio participante já se ria da cena e não deixa de ser caricato.
Ás vezes dou por mim a ter diálogos hilariantes e surreais, pessoas que ouvem mal, outras que nem sabem o que é a internet . "O quê? Markotesto. Não temos cá disso; Internet? já tenho". Ou um rapaz que era filho da colaboradora principal, que passou a batata quente para o mesmo. Quando disse o nome do rapaz, sem lhe perguntar, ficou tão assustado. Coitado do Adérito. "Como sabe o meu nome?", foi um diálogo bem animado, por acaso, mas sempre em moldes estranhos. Antes de começar a colaborar efectivamente ainda falamos umas quantas vezes, agora há muito que não aparece. Um colaborador exemplar!
O colega aqui do lado queria falar com o colaborador e ficou a saber por intermédio da filha que o pai tinha alguns gases que o impediam de vir ao telefone. "O pai? Tá a dar peidos!". Repetiu várias vezes, até porque o rapaz ficou incrédulo com o que ouvia. Se há coisa mais bonita que a inocência das crianças?
Todos temos histórias destas para contar. O mais engraçado é registar tudo isto, o pessoal chama-lhe escrita criativa. Este registo tem por objectivo descrever toda a conversa que tivemos, pelo menos os dados mais importantes e claro, prevenir os colegas para colaboradores mais relutantes, para não dizer coisas piores. É comum abrir uma ficha de participação e ver "cuidado, morde!" ou mudou de casa, ou está no estrangeiro, foi para a Bósnia!
É um trabalho extenuante porque pressupõem que tenhamos uma conversa dos diabos para convencer as pessoas a colaborarem voluntariamente num estudo... porque sim. Só isso, porque sim, porque é melhor participar do que não o fazer. Por vezes tenho que ser dura com eles, cheia de moral com base no quê? Sei lá...basicamente "ajoelhou, agora vai ter que rezar!"