sexta-feira

Amanhã vou assistir a um enlace curioso. Duas pessoas que estando compremetidas uma com a outra há muito, fazem questão de afirmar passado tanto tempo de vida conjunta que ainda se querem.
O casamento é um acto sério e que requer reflexão, no entanto parece-me o fortalecer de uma vida em conjunto e de um amor vivo, que ultrapassa com mais ou menos escaramuças, o passar dos dias. E este está forte e recomenda-se, espero seguir-lhes o exemplo.
Vivam os noivos!!

quarta-feira

Futilidades
Que raio de inquérito o que está hoje no Publico.pt: "Quem é o principal responsável pela crise em Timor-Leste?". As hipóteses de resposta vão desde a Igreja, à Austrália, passando pelo Xanana, o ex-Primeiro Ministro ou a ONU. Os leitores acham que é o Alkatiri e a Austrália.
Como se desse para se por as coisas nesses termos, além de que só se ouve falar de Timor quando há mortos e feridos, sendo o resto da temporada dedicada à ausência de notícias. Enfim, ainda "dizem" que o Público é um jornal de referência, a mim parece-me mais uma publicação de segunda que acha que a melhor maneira de esclarecer os leitores é fazendo estes belos inquéritos on-line.
Claro que servem para chamar os cibernautas e tal (não consigo arranjar outra vantagem para a existência destas sondagenzitas), além de darem uma sensação que desconheço, mas advinho de qualquer tipo de poder ou gratificação pessoal ao leitor. Baralha-me a existência destas futilidades jornalísticas. Ainda por cima na ficha técnica o Público refere que este inquérito não tem qualquer tipo de credibilidade científica, servindo apenas para perceber as preferências dos leitores. Então para quê gastar espaço e preocupação como uma coisa que efectivamente não serve para nada.
Será que o Público vai passar a referir Timor depois e se sair desta crise só porque os leitores "preferem" culpar este ou aquele ou os resultados obtidos lhes dá legitimidade para tomarem uma posição perante a situação em Timor? (O que originará um belo e apaixonado texto do mediático José Manuel Fernandes? Não me parece que seja preciso, o senhor já o deve ter escrito e publicado há muito tempo).
Portanto, 529 cibernautas que votaram preferem o Alkitiri, de seguida a Austrália. Até percebo a segunda opção, também prefiro a Austrália ao ex-Primeiro Ministro timorense.
Assim, proponho aos senhores do Público que a próxima sondagem/inquérito sem qualquer fundamento científico e razão de ser seja qualquer coisa como "Gostas mais do Paizinho ou da Mãezinha?". Assim como assim não interessa nada e não, o fundamento é nulo e a importância também.

terça-feira

Pois, então os EUA andaram para aí a transportar alegados terroristas de prisão em prisão secreta pelo mundo e utilizaram recursos e ajuda de vários países europeus. Maior parte destes países vínculados, tal como os EUA a tratados e diplomas que têm por objectivo acabar com as detenções ilegais, as prisões secretas, a tortura, o tratamento não digno de prisoneiros, enfim, essas coisas que os EUA não deixam de fazer e que certamente muitos dos estados europeus também fazem.
Hoje o Conselho da Europa manifestou publicamente o seu apoio "(...) ao relatório sobre voos e prisões secretos da Cia" - notícia do Público.pt e adianta que a Assembleia do mesmo organismo reuniu indícios suficientes para chegar à conclusão que 14 países europeus estão envolvidos na transferência ilegal e prisão de pessoas ligadas ao terrorismo, condenado no final esta prática e apelando a novas estratégias de combate ao terrorismo que não compromentam a dignidade humana e recorram a métodos extremistas.
Pois, tá bem, eu também aproveito para manifestar aos desgraçados dos prisoneiros que estão à mercê de gente louca e tão prepotente como os gajos que os recrutam para abraçar a causa dos mártires mulçumanos, o meu apoio já que têm direito a detenções legais e julgamentos justos e a Dick Martim, membro do parlamento do Conselho Europeu e que conduziu o inquérito onde que chegou a estas conclusões: "existem indícios suficientes para concluir que 14 países europeus colaboraram numa teia montada pelos serviços secretos norte-americanos para capturar, transportar e manter em cativeiro pessoas suspeitas de ligação a movimentos terroristas, à margem do sistema judicial.", in Público.
Também aproveito para dizer que esta treta de Guatámano e a Cia e os respectivos presos e a subvida que têm dentro daquelas prisões, que deve ser bem pior do que imaginamos, me faz lembrar as descrições que já li sobre os prisioneiros dos campos de concentração Nazis. Lembrança que não sendo original, parece ter sido esquecida pelos Governos Europeus.
Aliás, Portugal vêm referenciado como um dos países que apesar de não terem tido qualquer acção directa nestas transferências ilegais, é conivente com a situação descrita. E digo indirecta porque apesar de existirem provas para o Conselho da Europa que os aviões da Cia se reabesteceram no aeroporto de Santa Maria, o Governo português diz que não têm nada que sustente estes factos. Além de que mais uma vez, Portugal é conivente com conductas ilegais e infrahumanas, nunca tomando para si qualquer tipo de papel activo nestas histórinhas, o que não me admira muito, mas ao menos podia não negar a sua conivência.
Enfim, estes senhores mais ou menos bem intencionados do Conselho Europeu dizem que querem desenhar e criar linhas de combate ao terrorismo juntamente com os EUA para os meninos não terem esta atitude, prontos, sei lá, que didacticamente aprendam a comportar-se condignamente....

segunda-feira

Vou ali e já venho!

Hoje, depois de muito pensar e de uma proposta de aventura a que não dá para virar as costas, cheguei à conclusão que é preciso mudar de vida.
Não sei para onde vou ou o que fazer depois de um merecido descanso e de acordar apenas para descobrir, mas sei que estarei melhor e mais saudável. Novamente apaixonada pela vida com força e vitalidade. Vou ali e já venho. Esta é a frase que me apetece tatuar na testa.
Porque não posso ter medo de mudar e de abraçar novas perspectivas, porque não posso deixar que as nuvens negras e os momentos menos felizes me deitem abaixo, porque não posso pensar que "se esqueceram" de mim, quando eu sou a que não escuto os meus verdadeiros e mais intímos desejos e vontades. Vou ali é já venho.

quarta-feira

Venho por este meio dar as boas-vindas ao Verão, ao Calor, ao Sol a brilhar, aos pássaros a cantar, à praia, às cervejas, às noites longas de música e conversas boas à beira-mar, no campo ou cidade!
Também quero saudar as peles morenas e bochechas sadias e rosadinhas, os olhares brilhantes e os corpos semi-despidos.
Hoje é o dia mais longo do ano, o Solstício de Verão - "Devido às movimentações da Terra ao longo do ano o Sol se movimenta no céu ao longo do ano também e assim, duas vezes por ano o Sol fica exatamente em cima da marca do equador ao meio-dia esses dois dias são chamados de Solstícios, e também temos os Equinócios que, são os dias em que o Sol está sobre o o ponto mais ao Sul e mais ao Norte. Um dos Solstícios é o Solstício de junho que acontece ou no dia 21 ou 22 de junho dependendo do ano".
Fonte: Wikipedia;)
Eu vou para a rua, vemo-nos por lá!
P.S. Parabéns Santinha, o canudo já cá canta;)

segunda-feira

Adérito é Deus!!
Acabei de apagar sem querer o início de um post diferente deste. Foi depois de telefonar para casa de um colaborador do estudo e me terem dito que o rapaz faleceu. Fiquei nervosa...
Imagino, por vezes, como será a vida com quem falo ao telefone todos os dias, alguns até me conhecem e tratam como se fosse a menina da tabacaria ao pé de casa ou como se fosse a padeira ou coisa que o valha. A intimidade, que não o sendo, se adquire pelo hábito reiterado de lhes telefonar. A familariedade de uma cara conhecida, transportada para uma voz.
No início espantava-me como as pessoas são capazes de falar sobre a sua vida a uma estranha e há medida que ia tentando perceber o que se passa com os seus computadores, conhecer também uma ou outra história destas pessoas.
Um senhor que me dizia que não podia continuar a colaborar porque tinha saído de casa e o pc tnha ficado com a ex-mulher e as filhas. Pedi-lhe autorização para recrutar a filha para continuar a colaborar no estudo. O senhor disse que sim, não haveria problema, a miúda já está habituada. Arrastaram-se vários meses e não consegui falar com a miúda. No dia em que consigo falar com alguém daquela casa, atende-me o suposto ex-marido.
Voltaram ao casamento, voltaram a tentar. Dizia ele que "Graças a Deus já passou, foi uma fase má". Até ficaram sem computador durante uns tempos, mas que agora está tudo bem e têm muito gosto em colaborar novamente. Falei também com a mulher: " O meu marido trabalha até tarde e tal, mas já tá em casa novamente..."
Fico contente que duas pessoas desavindas afinal não estejam assim tão equívocadas! Também há o caso dos participantes que ligam muito ofendidos a dizer que está uma pessoa no seu agregado familiar que já não vive naquela casa "Faça o favor de tirar essa senhora daí, já cá não vive" , estas são as situações em que os colaboradores usam a linha telefónica grátis. Para repôr a verdade dos seus agregados familiares.
Falei com um senhor que tinha 3 filhos, quando confirmava uns dados que não me recordo quais eram e envolviam toda a família, exclamou bruscamente que aquela pessoa por mim mencionada já não existia. O tom de voz foi tão rispído que não me atrevi a perguntar mais nada. Desactivei aquela pessoa, deixou de existir!
Situações engraçadas e rídiculas também se passam, tipo um senhor que tinha 2 computadores e ficou sem nenhum numa tempestade. Cairam-lhe uns quantas raios em cima da casa e lá foram uns electrodomésticos. Cómico porque o próprio participante já se ria da cena e não deixa de ser caricato.
Ás vezes dou por mim a ter diálogos hilariantes e surreais, pessoas que ouvem mal, outras que nem sabem o que é a internet . "O quê? Markotesto. Não temos cá disso; Internet? já tenho". Ou um rapaz que era filho da colaboradora principal, que passou a batata quente para o mesmo. Quando disse o nome do rapaz, sem lhe perguntar, ficou tão assustado. Coitado do Adérito. "Como sabe o meu nome?", foi um diálogo bem animado, por acaso, mas sempre em moldes estranhos. Antes de começar a colaborar efectivamente ainda falamos umas quantas vezes, agora há muito que não aparece. Um colaborador exemplar!
O colega aqui do lado queria falar com o colaborador e ficou a saber por intermédio da filha que o pai tinha alguns gases que o impediam de vir ao telefone. "O pai? Tá a dar peidos!". Repetiu várias vezes, até porque o rapaz ficou incrédulo com o que ouvia. Se há coisa mais bonita que a inocência das crianças?
Todos temos histórias destas para contar. O mais engraçado é registar tudo isto, o pessoal chama-lhe escrita criativa. Este registo tem por objectivo descrever toda a conversa que tivemos, pelo menos os dados mais importantes e claro, prevenir os colegas para colaboradores mais relutantes, para não dizer coisas piores. É comum abrir uma ficha de participação e ver "cuidado, morde!" ou mudou de casa, ou está no estrangeiro, foi para a Bósnia!
É um trabalho extenuante porque pressupõem que tenhamos uma conversa dos diabos para convencer as pessoas a colaborarem voluntariamente num estudo... porque sim. Só isso, porque sim, porque é melhor participar do que não o fazer. Por vezes tenho que ser dura com eles, cheia de moral com base no quê? Sei lá...basicamente "ajoelhou, agora vai ter que rezar!"

quarta-feira

Apagar memórias? Mas que ideia peregrina, se fosse possível. Acho que se estivesse naqueles dias cinzentos como o de hoje, iria dizer que queria que me apagassem algumas coisas da memória, eu e qualquer pessoa.
No entanto, neste dia que está cinzento e que afinal até um dia alegre. A chuva veio para limpar e referescar, além de dar um toque de país tropicaliente e exótico q.b., não me veria a querer apagar algumas memórias que tenha e que me fizeram sofrer. Essa é uma bagagem que só concebo junto a mim.
Claro que muita gente já passou por situações que os fizeram sofrer tanto, que o melhor e para seguir em frente, é "apagar" certas coisas. Porém, nada é perfeito, a vida, os homens e mulheres, os acontecimentos e os acasos, até esses são passiveís de retoques, mesmo quando são acasos felizes.
Não sei que sentido faria se apagasse episódios da minha memória, afinal é quase tudo o que temos de nosso. Os sentimentos e pensamentos, acções e atitudes que tomamos ao longo do tempo e do caminho. Fazem de mim o que sou e o que é melhor, fazem muito do que serei.
Apagar as memórias é como se conseguissemos admitir que nada é perfeito, que nada tem flops, que nós somos autónomos e impenetráveis.
Playing God, just playing God!!

terça-feira

É o 1º post que escrevo em casa, aqui na varanda da Ana com o Chasqueira a tocar viola!!!

Ainda bem, porque será um dos últimos aqui na varanda mais estreita de Lisboa.

Penso várias vezes que a mudança é um bicho que não pára quieto, tão depressa está meio adormecido como rapidamente se aloja e me faz experimentar sentimentos diversos, ora de medo e desconfiança, ora de esperança e vontade de andar para a frente.

Sendo que a guitarra não cabe na varanda e o Verão está ai, nada melhor que partir. Em dupla ou "catadupla" , quanto mais não seja faremos a estrofe de uma canção.

De vidas banais ao som de músicas vibrantes e melancólicas, mexidas e relaxantes neste universo flamejante de vontades preciosas e cândidas.

sexta-feira

Começou o Mundial! A alienação está instalada. Futebol, futebol, futebol e se duvidar...mais um bocadinho de futebol.
Há muito a dizer sobre isso ou não e por isso, só dois apontamentos: no Inimigo Público os concorrentes que ganharam o Primeiro Prémio de Criatividade escrevem um texto bem engraçado sobre o futebol, não me lembro do link, porém vale a pena ver as coisas por aquele prisma.
O segundo apontamento é sobre a programação televisiva cá do burgo. Ora, ontem estive numa noite televisiva q.b., já não o fazia há algum tempo e durante umas horas largas, eu e a "Firmina" papamos tudo o que nos passou à frente nos vários canais - que para nós são apenas 4 e ainda bem. A publicidade só usa o mundial e o futebol para vender os produtos e afins e todas são boas desculpas para por um esférico na imagem, um qualquer jogador de futebol bronco promovido a herói da Nação ou então - e como dizia a companheira do colanço- o Selecta Scolari a apelar muito patrioticamente para pormos a bandeirinha na janela, no carro, no cão, no gato e no raio que o parta.
Um programa delicioso e fantástico na RTP onde o apresentador conseguiu que um dos jogadores da selecção falasse em directo durante uns minutos largos. Uma proeza! Sempre que fazia zapping lá estava o moço a transmitir ao país qual o espírito vivido pela equipa e tal e tal. Aquele programa durou umas horas largas.
Preferi ver a novela, aliás, as várias que dão durante uma noite televisiva.Claro que a TVI ganha aos pontos. Depois de 4 horas de novelas, chegam os dois diários, SIC e TVI, sobre o Mundial e a equipa das Quinas. Mais uns minutos. Reportagens hilariantes. Os adeptos da Costa Rica na Alemanha, duas moças do outro lado do oceano a dançarem com umas bananas gigantes e mais uns quantos frutos na cabeça, adeptos histéricos, pintados, prognósticos, diagnósticos, treinadores de bancada e videntes. Valha-nos Deus!
Não bastam os jogos, é preciso fazer render o peixe e as tv´s sabem-no fazer bem, seja futebol, incêncios ou pedofilia. Um magazine sobre os acontecimentos do Mundial, uma reportagem sobre as mulheres dos craques e como ultrapassam a carência sexual durante o Mundial, as cuecas dos jogadores, os adeptos frenéticos e demais postais futebolísticos.
Não vou ver tv nos próximos dias, o que vi ontem chega e sobra, prefiro ver novelas, sempre falam de mais qualquer coisa que futebol. Descobri as da TVI e acalento o sonho de um dia conhecer as mentes intrincadas que escrevem os argumentos. Estórias mais rebuscadas que o CSI e suas sucursais espalhadas pelas cidades dos States. Mas tanto as novelas como o CSI e suas variantes são outros posts...ou não!

quinta-feira

A tirana está dentro de mim, a autocracia que posso exercer vive na minha cabeça e no meu espírito e é bom perceber que a libertação depende só de mim!
O caminho para essa libertação é o mais importante de todos, se esse estiver iniciado, tudo o resto parace mais pequeno e pouco importante.
Distinguir o essencial do importante. E o essencial é a tranquilidade e força. O resto que se foda!!

segunda-feira

Isto são umas atrás das outras... e fazem-me acreditar cada vez menos no ser humano!
Perco a fé que anteriormente me fazia acreditar na evolução e no aperfeiçoamento dos homens e mulheres. Não creio em gente perfeita e desta acho que devemos fugir a sete pés. A imperfeição humana faz parte da nossa existência e passagem por cá. Mas caramba, ele há com cada um...
Anda gente por ai sem escrúpulos e respeito por quem os rodeia, egoísta e mau carácter, aposto que sem noção do que fazem e que me fazem acreditar que a maldade pode ser intrínseca e a isto mistura-se um bocadinho de capricho e tá tudo fodido!
Não acredito no Inferno ou no Céu, nem na existência de uma força divina que venha castigar quem merece.Porém, quando a justiça humana nada pode fazer e nos ata os pés e mãos, espero que tudo o que fazemos nos seja retribuído a dobrar, não é uma praga, apenas e tão só, um mecanismo de manter esta merda em equilíbrio. "What goes around, must comes around..." assim o espero.
E até que essa força maior que mantém o equilíbrio disto tudo não entra em acção, vou aprendendo mais do que gostaria, conhecendo o que existe de feio, sórdido e sujo no ser humano. Tudo o que peço e troco pelo equilíbrio de que falava atrás, é que a minha fé em nós, as pessoas, não esmoreça e acabe por desaparecer e que consiga manter o meu espírito, coração e cabeça limpos do lixo que acumulamos ao longo da vida.
Lamento a amargura que me corre nos dedos e transborda cá para fora sem qualquer cuidado ou contemplação, no entanto, não tenho sentido nenhuma contemplação em relação à minha vida nos últimos tempos, nem nas bombas que lhe têm caído em cima.
Esta é a minha vingança (conheço coisas bem piores), lançar para a blogoesfera o que me atormenta. Pode ser que se perca e se dissolva.

sexta-feira

Numa sala fresca e antiga, ali para os lados do Campo Mártires da Pátria existe um sofá confortável e acolhedor. Se pudesse mudava-me para esta sala fresca e ampla, quase insonorizada com janelas sobre a cidade barulhenta e atribulada com miradouros verdes e labirínticos que oferecem vistas sobre Lisboa.
O de hoje retribuí uma Lisboa fantasma, apenas com vista para as janelas dos prédios mais altos. As árvores tapam as ruas e os restantes espaços que possam acolher gente. E o meu olhar segue uma colina cheia de quintais semi abandonados, apenas povoados por gatos preguiçosos e vadios.
O calor afasta-nos das ruas e de repente parece que estamos na hora da sesta. Ando pela rua como se estivesse em pleno deserto, procurando as sombras reduzidas nos passeios. Quase que tenho visões de um oásis distante. Uma pequena casa de adobe com 2 banquinhos à porta, janelas pequenas com grades rocócó azuis e protecção para os mosquitos e outros bichos que tais.
Ao entrar na pequena casa cor de barro saboreio um ar mais leve e fresco, descalço os sapatos e sinto os tapetes amarelos, verdes, azuis debaixo das plantas dos pés. Espera por mim um colchão florido e um contador de histórias de olhar triste e melancólico.
Sozinho e de olhos fechados, canta histórias de sofrimento, também de crença numa vida melhor. Canta os antepassados e a chegada das caravanas com novidades frescas que vêm do outro lado das dunas.
Adormeço com as palmas e vozes quentes e aconchegantes que cantam e enchem a sala. Passaram lá para fora e agora os batuques tomam conta da noite do deserto, que nos protege com o manto brilhante das estrelas, baixinhas como se lhes pudéssemos tocar e levar para casa.
Ilusão! As estrelas não se guardam. Existem para nos guiar e iluminar os caminhos. Não se deixam apanhar, só aparecem quando lhes dá na gana e nunca, nunca admitem que as guardemos nos bolsos para quando precisamos delas. São de todos.
Esta foi a alucinação que tive quando andava na rua. Caminhos de terra batida, castanhos claro, dunas gigantes que abrigam vales fofos de grãos de areia, vilas fantasmas à hora de mais calor, mercados coloridos, cafés e lojas desertas de gente. Aqui e ali um ponto de cor, gente tapada com panos coloridos, crianças a jogar futebol com uma bola improvisada. Na linha do horizonte uma cidade ladeada por tamareiras verdes. Envolvidos na vegetação advinham-se castelos encantados, casas fortificadas com pátios coloridos e aconchegantes. No meio, fontes e lagos, sapos e plantas verdes.
O sol é abrasador e seguimos pela estrada de terra batida, na esquina de um dos caminhos entramos para uma casa construída abaixo do chão, uma gruta cor de laranja, habitada por um gigante negro, de voz doce e olhar meigo.
Tenho uns amigos que vieram do deserto há pouco tempo, vi as fotos, aquelas cores. Tudo junto com o calor que se faz sentir nesta cidade tive uma série de visões e alucinações. A minha memória foi assaltada pelas recordações de tranquilidade e descoberta do deserto. Das pessoas que vagueiam pelas ruas, assoladas por uma estranha calma, enrolados nos inúmeros panos que os cobrem, lembrei-me dos cheiros e sabores fortes. Os olhares vazios e inexpressivos de quem contempla o infinito. Acucorados numa estrada deserta e quente, esperam não sei muito bem o quê. Mas esperam com calma e sossego, aproveitam para observar o que os rodeia, conhecer o sitío onde moram. O deserto esconde muitos mistérios, transforma-se a uma velocidade fascinante e imparável, cobre estradas, tapa casas, engole pessoas e animais.
Cria confusão e vazio e de repente entrenha-se no corpo e na memória, torna-nos prisoneiros da sua tranquilidade, ensina-nos que numa paisagem aparentemente linear e monótona se esconde um mundo de possibilidades e encantos.