quarta-feira

Muitos motivos para escrever, mas pouco tempo para digerir a informação existente e conseguir pôr tudo cá fora.

Estou muda, cega e surda. Energias concentradas nas pinturas e reconstruções.

E senão existissem os amigos? Nem quero imaginar essa possibilidade;)

Obrigada/o aos que estiveram presentes neste fim de semana complicado e tão saboroso ao mesmo tempo. Voltem sempre que vos apetecer!

Rock on, porque o que não nos mata, torna-nos mais fortes!!!

sexta-feira

Hoje é dia ruptura e como as situações de ruptura exigem novos caminhos e novas escolhas, é isso que irei fazer nos próximos tempos. Elaborar um novo ponto de partida e especialmente um novo ponto de chegada.

O fim de semana prevê-se agitado, mas com praia e amigos. Volto ao meu safe place amanhã, para o recuperar dos escombros e torná-lo novamente habitado/habitável.

O futuro não sei o que reserva, a luta, essa não a esquecerei, vou-me apenas retirar e relaxar. Ganhar e armazenar energias.

Quando o tumúlto é muito e as incertezas e agressões não páram de se abater o melhor é retirar a equipa de campo e esquecer que o mundo apesar de não parár, não acaba hoje.

Tento recuperar a humanidade que me deixou, o lugar que a mecanicidade tomou.

Este passa a ser um espaço de recuperação....

quinta-feira

"Should I stay or should I go?"
Contínua qualquer coisa como quando as decisões me aborrecem, lá, lá...Pessoalmente penso em partir, mas só penso não concretizo e vou, de mansinho, para o meu safe place como diz a Sally da série "Couplling".
No entanto, o meu sítio seguro tem sido invadido por uma série de inseguranças e todo o cenário maravilhoso deixa transparecer um fio ou uma câmera e um microfone como nos filmes de má qualidade, bem por trás de uma palmeira frondosa que habita o meu safe place.
É a vida, os safe places não são herméticos, intransponíveis e...em última análise seguros. O que me chateia!
Todos deveríamos ter um safe place, parece-me mais útil que um amigo imaginário. Um lugar tão elaborado que nem nós saberíamos onde é, apenas os caminhos labirínticos da imaginação saberiam como se vai lá dar. Um lugar imaginado por nós assim que nascemos para este mundo, quase tão perfeito que não saberíamos como distinguir entre o safe place e o mundo real.
Ou melhor, o safe place poderia ser este universo, mas não é, e por isso me vejo impelida a ir para o meu safe place.
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Deixando o safe place. Ele anda tão habitado estes dias que pode deixar de ser ainda menos seguro se continuar a fazer esta publicidade toda.
Hoje li uma revista feminina, aliás leio várias vezes, e por defeito profissional ou não, pôs-me a pensar naqueles conteúdos. Nenhuma novidade, existem várias dissertações teóricas sobre o tema e toda gente compreende o propósito das mesmas. Mesmo assim, apetece-me divagar sobre estas.
3,50 euros por uma revista repleta de publicidade, anúncios esses que se adequam com o tema de capa de cada edição, ai está uma estratégia requintada. Fotografias e produções de moda, as últimas da estação que agora se inicia, uns artigos meios desgarrados lá para o meio sobre o museu de arte antiga, as jóias das celebridades e como vão parar às mãos, dedos, pescoços das estrelas, enfim...nada.
Mais vale comprar a Caras ou a Lux, até a VIP. São mais baratas e ao menos já sabemos que os textos versam sobre as tias, tem fotos bem grandes, além das fotos paparazzi e aquelas rubricas que adoro: imagens dos convivas de determinado evento social, nas quais o interesse maior são as farpelas dos mesmos. Acho lindo, especialmente as fotos das tias mais velhas com os seus cabelos armados e cheios de laca, expressão facial meia esgroviada por causa dos flashes e plásticas.
O maravilhoso jet-set diverte-me mais que uma revista feminina e até, mais do que um filme do Woody Allen. Acho que se o Allen lhes pussese a vista em cima também se divertia. Gosto de todo aquele espectáculo das melenas loiras, as plásticas, os sorrisos dos anúncios das pastas dentríficas, o último grito da moda.
Na semana passada vibrei com os Globos de Ouro, a parte mais divertida é a do tapete vermelho, o resto acho que deviam abolir, não tem qualquer interesse e soube por um amigo que as limusinas que transportaram os convidados até ao renovado Campo Pequeno, outro fenómeno tipicamente português: as resoluções dos nossos problemas passam por construir um shopping em cada canto de cada cidade. Está sem vida, não tem gente, já não passa de uma praça de touros decrépita que alberga em sim uma prática também ela decréptica e animalesca, a tourada, constrói uma galeria comercial, não dá lá dentro, faz no subolo, tipo estacionamento. Perdi-me, as limusinas eram só três que davam a volta à Praça e iam buscar os convidados às traseiras do espectáculo, lindo.E nós, a pensar inocentemente que cada um dos convidados poderiam ter alugado uma limusina. Inocentes!
O local da festa pareceu-me apropriado para o bando de forcados, vulgo meninos betos, que lá devem ter estado, tanto na plateia como naquelas tribunas ao longo do tapete vermelho. Crianças histéricas a acenarem à Melanie C como se fosse o Cristo Redentor a aparecer novamente cá no burgo.
Foi a feira das vaidades e da cusquice e sabe lá mais o quê. Os repórteres do tapete vermelho estavam encantados. Aliás, repórteres que estã a crecer a olhos vistos e já se justifica a criação de um subgrupo dentro do jornalismo, tal como existem os jornalista de guerra, também deveriam ser considerados os jornalistas do Tapete Vermelho.
No fundo, chega a ser uma prática jornalística tão perigosa como o repórter de guerra, uma pessoa corre o risco de levar com uma mama de silicone, escorregar numa cauda de um vestido, ficar intoxicado pelo cheiro a perfume intenso e pior, ter que entrevistar a Pimpinha e fazer de conta que é a criatura mais fascinante e interessante do mundo.
Medo, muito medo!!!!!!!!!

quarta-feira

Hoje não foi um dia fácil, mas à medida que foi andando, fui vendo atitudes de ternura e compreensão, largadas ao vento como quem diz: tem paciência, calma, planta amor, compreensão e amizade e colherás os frutos e agora, no meu segundo trabalho, depois de uma tarde solarenga passada quase toda na esplanada, tudo me parece mais leve!
Sei que quando chegar a casa vou ter uma família que me espera, que se preocupa e cuida e é isso que todos temos que fazer, cuidar dos que mais gostamos.
Desculpem-me a lamachice, porém quase todos os dias são intensos, de descoberta, de negação, de teste à minha força interior, teste constante à minha preserverança e fé no mundo e nos outros e em mim.
E quando estáva no metro após a 35ª entrevista de emprego - que por acaso é uma óptima terapia. Falamos com um estranho sobre algumas coisas que até aliviam, se tivermos auto-confiança e soubermos fazer as coisas, ainda saímos de lá com o ego em cima, do melhor que há - voltando ao metro....
O que vi foi uma manifestação de ternura e cumplicidade, misturado com tristeza e saudade, muita saudade. Entrou um homem, comido pela droga, com óculos de sol pretos e assim que se senta e olha para o lado, vê as minhas companheiras de viagem, uma mãe e avó babadas com a respectiva criança e exclama "Manela experimenta estes óculos!", ela experimentou, a avó e ele diz que gosta e que são uma prenda. A Manela ficou contente e retribui a prenda com dois beijinhos. Eles conheciam-se e palavra puxa palavra, percebi, bem como os restantes passageiros vizinhos, que se conheciam de outras vidas.
O rapaz antes de sair do metro, do nada disse que tinha saudades, muitas. Os companheiros da Manela e do rapaz dos óculos morreram e deixaram-nos tristes e sós. A Manela vestida de preto e o rapaz dos óculos entregue ao vicio e à tristeza que quando saiu da carruagem se lhe abateu nos ombros.
A companheira do rapaz chamáva-se Manela, porém era um Manel, o companheiro da avó Manela deixou-a sozinha. Conheceram-se todos, pelo que percebi, numa outra vida que a avó Manela abandonou. O rapaz dos óculos carrega uma tristeza muito grande, maior que a vontade de uma vida melhor.
A avó tem um netinho, um menino espevitado e simpático que pelo que disse à senhora da frente a fazia sorrir e esquecer momentos mais dificeis.
Esta história a propósito do nada. Ou melhor, a propósito do amor e ternura. Das pessoas que vivem na mesma cidade que eu e não reparo, tal a concentração obessiva nos meus dramas. A propósito da capaciadade que não posso perder de me comover e de acreditar.

quinta-feira

"Pretinha,
Eu faço todo pelo nosso amor,
Faço tudo pelo bem do nosso bem, meu
A saudade é minha dor
Que anda arrasando meu coração

Não duvide que um dia eu te darei o céu,
O meu amor junto com um anel
Pra gente se casar
No cartório ou na igreja
Se você quiser,
Se não quiser, tudo bem, meu bem

Mas tente compreender
Morando em São Gonçalo você sabe como é
Hoje ´a tarde a ponte engarrafou
E eu fiquei ´a pé

Tentei ligar pra você
O orelhão da minha rua estava escangalhado
O meu cartão estava zerado
Mas você crê, se quiser"

São Gonçalo de Seu Jorge.

Esta música é uma declaração de amor bonita, apesar dos azares do rapaz.

quarta-feira

Cá vai uma mudança capilar! Foram muito os esforços para que voltasse a ter cabelo na moleirinha, o frio aperta. Os distintos cabeleireiros foram o Nuno, o jorge e o pedro, cada um com a sua cola conseguiram restituir-me algum conforto.

Esta é um reinterpretação livre do sucedido do amigo e vizinho Pedro.

Os conselheiros foram o Triani, a Joana e a vizinha Sara sempre que o fogão lhe permitia fugir.

Aos interessados em restituir as suas melenas, por favor deixe o contacto neste blogue. Os resultados são incríveis;)

terça-feira

Tenho um post preparado, popozudo, humorístico para postar... e não consigo ultrapassar os parcos conhecimentos de blogueira. Fico chateada. Tenho que pedir uma aulas a um/a entendido/a.
Lá no meu estágio tive a catalogar e receber os portfólios dos concorrentes do concurso de Fotografia: viagens e mais viagens, e o ocidente v.s. o oriente. A austeridade do primeiro e o exotismo do segundo, a cor v.s a sépia, enfim...os bichos, a natureza vs. a cidade, industrial, pesada, arranha-céus, trânsito, caos...lá lá lá.
Tudo entregue à última da hora, dossiers e dossiers de impressões recolhidas pelos nossos fotógrafos. É bom ver que o pessoal passeia por ai, fotográfa, anda pelas ruas de outros mundos e quer partilhar o que viu com os demais, os que ficam, os que vão para outras paragens e sobretudo com os que poderão ser indiferentes a outras vidas.
Fico triste quando percebo que vivemos num mundo que limita a livre circulação dos povos, a troca de ideias entre as gentes, as suas artes, letras e músicas, hábitos, defeitos e feitios. Há países no mundo onde a entrada de estrangeiros, sejam eles do país ao lado ou do outro lado do globo, não permite a entrada de nenhum estranho áquele meio.
Desde que visitei um país onde os nacionais têm de pedir autorização ao soberano para deixarem as suas casas que compreendi que esse fechamento não passa de uma estratégia para se poderem manter no poder. A circulação entre os povos sempre transportou novas ideias, as pessoas que se movem livremente comunicam entre si, transportam consigo outras formas de vida e recebem em troca maneiras diferentes de ver o mundo. Isso não é bom, põem em causa o poder estabelecido.
Mais chocante foi ainda perceber que existem muitos países no mundo nos quais os seus naturais não podem falar com estrangeiros, não podem livremente criar laços com pessoas que não falem a mesma língua e que conheçam outras realidades.
Isto tudo vem a propósito de nada, porém é um assunto que me atormenta e que impede que vivamos num mundo mais justo e pacífico, porque as pessoas estão impedidas de se conhecerem, de se darem, de partilharem conhecimentos, de criarem formas alternativas de vida, de se olharem nos olhos e em diálogos cara-a-cara ultrapassarem as diferenças.
Por isso, se criam conselhos disto e daquilo, cimeiras de entendimento global e burocracias várias, quando e acredito nisto, a essência do ser-humano é nómada, viajante e errante!

segunda-feira

Já estou a defraudar as expectativas do pessoal. A tal fotografia com a mudança capilar ainda não foi possível de postar, tive problemas logisticos, peço desculpa. Mas tal vai acontecer, tá prometido.
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Este fim de semana fui ao Porto, escusado será dizer que vim para Lisboa doente, passei hoje o dia de molho. Não tenho uma boa relação com o estado do tempo da Invicta, só no Inverno, já sei com o que posso contar.
Sentei-me na esplanada a ler o jornal, caminhei e senão fosse a constipação tinha sido um bom fim de semana relaxante, em casa da família.
Gosto de ver como os meus irmão estão crescidos e activos, a caminhar pelos seus próprios pés, a contar as suas primeiras aventuras e desventuras, as descobertas, desilusões e alegrias. Claro que esta conversa só é válida para a minha irmã, porque o meu irmão não fala grande coisa, nem conta nada por ai além, a não ser que tudo é uma chatice, menos os cavalos, as miúdas e que vai despedir a explicadora.
Ela fala e conta tudo, é uma menina bem-disposta e caprichosa q.b., tem piada e é inteligente. Como ninguém na minha família, sou uma irmã babada...
Fico contente e apesar de lá ir tão poucas vezes nos úlimos seis anos, percebo que eles gostam da minha presença e me contam o que lhes apetece. Ou seja, apesar da distância somos amigos e eles olham para mim como uma pessoa a quem podem chegar e com quem contar.
Ás vezes a distância mata as relações ou enfraquece os laços e a convivência acaba por ser trivial e pouco intíma, é díficil lutar contra o passar dos anos e a ausência do quotidiano. Esse ajuda-nos a conhecer bem as pessoas com quem vivemos, os seus olhares, atitudes, a sua expressão corporal e os tons de voz, as disposições e manias. Filtra por si só com quem estamos e queremos estar.
Já me aconteceu isto com algumas pessoas e acredito que os laços de sangue não determinam assim tanto a manutenção das afinidades ou a existência das mesmas. O apelo do sangue não sei se fará grande sentido, de qualquer forma, poderei mudar de opinião algum dia. O que faz sentido para mim são os laços afectivos que criamos com as pessoas.
A minha vida é povoada de gente que à partida nem deveria ter cruzado o meu caminho e vice-versa, o acaso e a ironia da passagem por aqui fez com que tal acontecesse, ligando-nos para sempre, gente diferente que esculpiu uma relação sem nada dado, apenas o acaso e mais tarde as afinadades que a convivência foi deixando vir a lume.
E esse desafio da conquista dá-me prazer até hoje como se cada pessoa que conheço fosse um potencial território fértil para fazer crescer um bosque de ligações e afectos e fico surprendida como aquilo que mais me distancia de outra/o é o que mais me aproxima, no fim.

quinta-feira

Acho que tou a ficar doente, o ar condicionado é uma praga dos tempos modernos. Não lhe reconheço nenhum valor ou vantagem.
Passado alguns anos fiquei alérgica ao mesmo, não posso levar com ar condicionado durante 10 minutos que sejam que fico assim, ranhosa e fanhosa com a garganta atacada. Estar adoentada com calor é horrível a ale´m disso, não consigo dormir durante a noite, tenho o nariz entupido, não consigo respirar, o que não é nada bom.
O mais engraçado de ficar assim é a voz rouca, o que dá jeito para falar com os colaboradores do estudo da Marktest ao telefone, faço uma voz mais sexy e é sempre a subir nas instalações de programas, logo após ao contacto telefónico. Ou seja, ligo-lhes e peço que instalem o programa e eles em vez de se esquecerem, vão logo instalar o programa que os vai controlar. Que perversidade.
As senhoras não acham muita piada, desconfiam quando lhes pergunto pelo marido ou filho ao telefone. "Mas quem fala?". As mulheres ao telefone são lixadas, muito mais antipáticas e pouco disponíveis que os homens. Esses sucumbem a uma vozinha mais sedutora, a um pedido bem feito ou que quer que seja, claro que também há os que me enganam e dizem que instalam o programa e nada. Partem-me o coração;)
O que se passa é que com este trabalho comecei a perceber que as pessoas têm uma grande dificuldade em dizer que não. Simplesmente dizer que não querem, que não lhes apetece. pronto, mais nada.
Em vez disso, enrolam, são chatos e mal educados. Claro que ninguém tem obrigação de instalar o programa. Eu não o instalaria, mas há com cada anormal. Logo nem deveriam ter dito que queriam colaborar, o pessoal já devia saber como são estas coisas. Se dizem que sim, nunca mais os largamos....
P.S. E este fim de semana vou decorar o meu blogue a pedido de várias famílias (leia-se Jorge) e até postar umas fotos tiradas pelos fotógrafos lá de casa. Talvez negoceie com um deles uma transformação visual que se me deu há 3 dias atrás;)

quarta-feira

(Pequeno aparte)

E não sei porque da vontade de escrever me veio a cidade à cabeça!

"Nós somos o que tu és
Cidade"

Das companheiras, banda revelação SYZYGY.

Mas sei, essa sim, onde estáva e está escondida a minha vontade de andarilhar por ai...
Quero escrever, agora quero escrever, só me apetece escrever... A escrita além de ser um exercício óptimo, é também uma forma de deitarmos cá para fora tudo o que nos vêem à cabeça. Já pensei andar com um gravador na mala e poder dizer tudo o que me apetece, apesar de não ser escrita é um exercício tão libertador como o primeiro.

Comentários, pensamentos de que ordem sejam, impressões. Andar nas ruas de uma cidade é estimulante a nível cerebral e sentimental, pelo menos quando estamos predispostos para tal. As pessoas, os carros, as casas, os cães, as árvores, os jardins, apesar de serem poucos nestes contextos urbanos, até a falta deles nos podem fazer pensar e querer protestar, dizer como a falta de espaço para os peões, nas cidades e vilas portuguesas é um atentado à nossa própria existência.

Como a circulação selvagem dos carros nos condiciona a caminhada pela cidade e o gozo que dela podemos tirar. Como os outdoors publictários por vezes nos levam para lugares tão longínquos daquela artéria barulhenta e poluída. E esse é um direito nosso, o de podermos expressar os pensamentos e sentimentos a cada momento que passa. Daí o gravador.

Deveria haver uma série de placards gigantes com caneta para os caminhantes poderem exprimir e partilhar a sua impressão sobre uma tarde na rua. A sua passagem pela avenida, a paragem na montra dos saldos, o cócó dos cães, as bicicletas, os carros no meio do passeio ou somente o dia radioso de sol que os acaricia. O calor abrasador e polúido dos centros urbanos. Os dias cinzentos de chuva, os céus carregados e as trovoadas, bem como as poças das ruas que nos encharcam quando esperamos os autocarros e sobretudo, os atrasos constantes do autocarro.

Tudo isto e muito mais me passa na cabeça quando estou a andar. A andarilhar pela ruas que sinto que já não são dos caminhantes. São das obras intermináveis, do carros em cima do passeio, dos caixotes do lixo, do entulho e de todas as manifestações de falta de civismo que possamos imaginar. Ao que se junta o ar congestionado e porco que respiramos.

Mesmo assim, caminhar é das actividades mais relaxantes que conheço, logo se juntasse o caminhar ao gravador, poderia encontrar uma verdadeira terapia anti-stress.

No fim, tería a cabeça livre. Só de pensar fico com vontade de andar, mas como não posso escrevo.

terça-feira

Diz-me aqui uma colega que não sou moça para ficar em casa...diz ela. Até ficava, mas não numa casa qualquer, queria a minha casa de Milfontes com terraço, fresquinho lá dentro e calor abrasador lá fora.
Esta sensação quase de norte de África é o que mais me recorda o Alentejo e os tempos em que vivia e passava férias na minha terra. Minha terra porque fui lá que cresci, não porque me sinta identificada com aquelas pessoas, mais porque tenho memórias remotas e salgadas...
No entanto, é dificil apagar da minha memória as idas à praia de bicicleta durante todo o ano, muito vestida ou não, a praia era omnipresnte. Rebolar pelas dunas, fazer corridas de bicicleta, ver os rapazes a mergulharem do pontão dos pescadores, apanhar gafanhotos no quintal da escola para depois soltar na sala, durante a aula (os meus colegas eram gunas e eu também), esperar ansiosamente pelos dias de Verão e pela chegada dos amigos e amigas sazonais.
Aliás, quando comecáva a época balnear, o que no Alentejo em anos quentes, era a partir da Páscoa, ficava toda contente à medida que a minha rua, uma urbanização de casas todas iguais e branquinhas com faixas a toda a volta, ora azuis, ora amarelas ou vermelhas, se enchia de carros, a rua ganhava outra vida durante os tempos de praia.
O resto do ano a rua era deserta, tinha no máximo 4 carros durante todo o Inverno, vivam umas 3 familias e uns quantos solteiros, dois ou três na minha urbanização, a do Monte da Rosa, nº 31. Como o fado e que fado!
Nas férias de calor a rua enchia-se de miúdos como eu, bicicletas, patins, bonecas e todos os objectos possíveis de levar para a praia. Ao fim do dia enquanto brincávamos, ainda de fato de banho e descalços, os adultos lavavam os carros e as nossas bicicletas e até os putos lá tomavam banho. Os banhos de mangueira ou chuveiro eram frequentes naquele bairro. Cada casa térrea tem um chuveiro no pátio e todos os dias, durante o Verão, quando o sol se põem às 8 da noite, a minha rua albergava um riacho que corria até ao jardinzito.
Jardim interessante esse, as jardineiras desse jardim eram e são as senhoras detidas do estabelecimento prisonal de Odemira, até ai tudo bem, durante o Inverno e porque há pouca gente e aquele é uma bairro sossegado, as donas jardineiras plantávam plantas de cannabis, lool, ao lado das laranjeiras. Laranjeiras que nunca foram nada de especial, lá se foi a imagem romântica da música do Rui Veloso, "roendo uma laranja na falésia", lá para os lados de Porto Corvô...
E a praia? A praia do Malhão, extensos areais protegidos por dunas cheias de vegetação lilás, castanha, verde e vermelho vinho com uma série de pássaros bonitos e raros, segundo os especialistas, caminhos de terra batida, praias quase inacessiveis com bicas de água doce e rochedos como castelos.
Na praia do Malhão mais bonita, a dos nudistas, porque é de dificil acesso, acampava sempre uma família de espanhóis gigantesca, aproveitávam a bica de água doce, bem mais viva que nos dias que correm e construíam cabanas na praia ao lado das tendas. Gigantesca porque eram vários amigos com os respectivos filhos, de todas as idades, que tinham um ar de selvagens e eram-no, tipo os meninos perdidos. Para mim era bom encontrá-los claro está, mas não percebia nada que diziam o que não os impedia de me tentarem afogar e coisas que tais...
Ao fim do dia chegáva exausta a casa, antes disso parávamos nas banquinhas de fruta que estavam na estrada e que agora já não existem, pelo menos naquele caminho e comiamos morangos e melão. Os dias de praia ocupávam todo o tempo, ora no Malhão com a minha mãe e os meninos espanhóis, ora com o meu avô Moreira na praia do rio. Foi ai que aprendi a nadar e que fui ao meio do rio com o meu primo quando estáva maré baixa e andei de canoa, tentáva...Era gordinha, redondinha como uma foquita e o barco desequilibráva-se, o Inti ficáva furioso.
Com a pele enrugada da água fria do rio e curtida pelo sol, os pés cheios de areia fui feliz e ainda sou. Este é o meu estado de graça, quando a minha pele sabe a sal e os meus olhos reflectem a cor do mar.

segunda-feira

Agora que já disse mal da minha vida durante não sei quantos posts e até a minha mãe ficou preocupada, vou apostar num post positivo.

Não é que não seja uma pessoa optimista, mas nestes últimos tempos tem sido difícil sorrir e pensar só no lado bom como conseguia fazer há algum tempo atrás, não tinha preocupações e tudo era uma descoberta. Agora também é, porém as coisas pesadas andam sempre a espreitar e conseguem enevoar o dia mais brilhante.

Como tal: este fim de semana fiz a minha primeira entrevista para ser publicada, além de mim e os professores como acontecia na faculdade, existe mais gente que irá ler a peça, espero.

Esta entrevista é o culminar de um trabalhinho que fiz sobre uma banda portuguesa, os Tora Tora Big Band e depois de estar publicada no ruadebaixo.com, vou postá-la aqui. Mas foi um processo engraçado e sabe tão bem fazer estes trabalhos jornalísticos ou pseudo, já que nem sou profissional.

Porém tento fazê-lo com brio, muito brio e profissionalismo, mereço isso e as pessoas que se dispõem a falar comigo também e mais uma vez em equipa com o grande vizinho Nuno Chasqueira, o fotógrafo.

Claro que os músicos que ainda têm mais vida de cão que qualquer um de nós chegaram atrasados, sonolentos, a fugir por trás de nós para irem antes de mais beber um cafézinho para abrir a pestana e claro que quando acabamos a entrevista foi quando eles távam acordados e prontos para falar, tal como eu.

Já para não falar que para chegarem ao jardim Constantino foi dificil, às pinguinhas, ora chega um, vamos lá telefonar a outro que até deve tar a dormir e tal. E em 40 minutos lá conseguimos reunir quórum.

Um italiano, um brasileiro e um tuga, às tantas não percebia nada daqueles sotaques todos e quando se desinibiram e começaram a falar ao mesmo tempo vi a minha vida a andar para trás. O meu gravador não é nada de especial com o barulho da rua, transcrever a entrevista foi uma carga de trabalhos.

Agora que já vejo o guião com outros olhos, acho que falhei, não deveria estar a dizer isto, Deveria guardar só para mim para não descredibilizar o meu trabalho. Porém a admissão do erro é o caminho para a evolução e não para a redenção;)

sexta-feira

Hoje fui almoçar com a minha chefe, tivemos na conversa algum tempo. Diz que sofre muito por viver em Portugal (o que se percebe).
Pelos vistos foi embora quando era miúda e passado uns 20 anos voltou. Pensáva que iria ter vida regalada, trabalhar numa multinacional a ganhar salário internacional, cheia de qualificações académicas e experiências profissionais de se lhe tirar o chapéu, saiu-lhe o tiro pela culatra! Deve ganhar bem, também trabalha numa multinacional, mas faz horas extra que é um doce, depara-se com padrões de exigência profissionais um bocadinho diferentes do que estaria habituada, a velha história que todos sabemos.
Até aqui tudo bem, mas diz mal de tudo e ainda por cima pensa que é diferente de todos, tipo iluminada. É certo que é uma mulher inteligente e com um humor perspicaz, é culta e criativa. Mas não há pachorra. Menina de Cascais que teve a sorte de ter uns pais interessantes e com pasta, que lhe deram o melhor, sente-se diferente dos amigos...claro são todos uns betos que não pensam com a própria cabeça e nem tentam, burrifam-se em tudo. Evidente que a menina é brilhante e se sente diferente.
Faz-me lembrar os estrangeiros que vivem nos países de 3º mundo, tipo os amigos que conheci da minha mãe em Marrocos, a minha própria mãe ou mesmo os estrangeiros que vivem no Alentejo, lá isolados nos montes. Dizem mal de tudo, os locais são burros, aldrabões, balofos e provincianos, quando não coisa pior.
Porém, são fonte de diversão para os estrangeiros e aquilo que estes gostam nos indígenas é a sua simplicidade, generosidade e inocência quase primitiva, são todos muito exótico-eróticos. Podem-lhes comer a cabeça e iludir com os hábitos avançados e ocidentais. Dizem que são tolerantes, mas implacáveis com os da terra. Não percebo o cinismo.
Este pessoal procura viver num país menos avançado, e percebo porquê, também queria. Custo de vida mais baixo, dá-se valor a uma série de coisas que na cidade nem nos lembramos, põem-nos, não raras vezes, em contacto com a natureza e com gente menos stressada. O que não acontece nas grandes cidades e Portugal também não é tão em África assim. É verdade que não temos padrões de vida realmente europeus, nem hábitos, nem serviços, nem educação e isso por si só faz um povo e que para quem vem de fora até conseguimos ser típícos q.b. e exóticos.
De qualquer forma, irrita-me cada vez mais o dizer mal, sempre, qualquer que seja a abordagem é para destruir e o que não quer dizer que ache que sou branda ou pouco crítica. Porém assumir a posição do sou bué diferente e ninguém me compreende parece-me a postura contrária a ter.
Ser provinciano é mau, mas ter a mania anda lá taco-a-taco

quarta-feira

Já é a segunda pessoa que me diz que vai deixar de comprar artigos na Fnac, por solidariedade com a minha pessoa, isto quando digo que ganho 98 euros por mês e trabalho 8 horas por dia. Sou estagiária;)
E pronto, foi nisto que se tornou o primeiro emprego ou a primeira experiência dos jovens licenciados no mercado de trabalho. (Já vou no 3º estágio, o primeiro emprego ficou em casa...). Aquele tempo em que o finalista ou recém-licenciado entra na sua profissão para aprender e ser monotorizado por um colega mais velho, que está dentro da organização.
Actualmente o estagiário vai substituir as baixas dos contractados, as grávidas, os aleijados mentais das empresas, enfim....
Raras são as empresas que pagam um salário digno ao seus estagiários. Na Fnac, por exemplo somos mais de uma dúzia, em quase todos os departamentos existe um. Estão a fazer o trabalho de assistência, tarefas que no fundo nos introduzem na rotina da profissão. Mas isto não é desculpa para se explorar o pessoal. Pensando bem, e na história da humanidade, o Homem já explorou e contínua a explorar o seu semelhante com base em pressupostos bem piores. Afinal o estagiário nem está tão mal assim...
A forma que conheço e que concebo para ganhar a vida de forma condigna é a trabalhar e a minha força de trabalho deveria ser paga. Mas o que mais me irrita nisto tudo acaba por não ser a situação em que estou, já que a aceitei e poderia ter ido simplesmente plantar batatas ou coisa que o valha. O que me põem fora de mim é o discurso moralista e hipócrita que os empregadores, ou deverei dizer exploradores, têm sobre a sua própria conduta.
Gente que defende que está a dar oportunidade aos estagiários para aprenderem, para beberem dos seus fantásticos conhecimentos e conduta profissional, que se diga de passagem é muitas vezes uma bosta, não serve pra nada senão criar vicíos e más condutas nos que os rodeiam e não deviam ser exemplo nem para uma mula.
É verdade, a isto já assisti eu num estágio que fiz e acabei por não levar até ao fim, porque achei ridículo demais compactuar com aquela situação. A minha chefe era uma mula, uma baleia branca instalada e arrogante, que não fazia nada de jeito e punha-me a tirar fotocópias numa máquina manual e velha. Bati mal. Mandei-a passear e não me arrependo. Não me arrependo de não compactuar com exploração e falta de respeito tão flagrantes. Tal como não me arrependerei de mandar os gajos da Fnac passear se alguma vez perceber que já não aprendo nada ali!
O discurso moralista do "estamos-lhes a fazer um ganda favor e estes gajos vêm para aqui e só fazem merda" é fácil de desmontar. É fácil porque é uma desculpa para lhes descansar a cabeça e legitímar a sua desonestidade. Porque a exploração é desonestidade, é falta de humanidade e até é um crime.
Só para terminar li num jornal, faz um mês, o caso de uma rapariga alemã estagiária, que aceitou um estágio numa empresa, lugar esse que não lhe trazia qualquer rendimento. Lá descobriu que estava ali para substituir um funcionário da empresa, que não me recordo se seria mulher e estaria grávida ou doente. E a menina não foi de modas: processou a empresa e exigiu que lhe pagassem o ordenado que merecia e não é que ganhou. Contínua a trabalhar lá e agora decidu criar um quase sindicatos de estagiários, no fim de semana que se seguia a essa publicação ia fazer uma manif...
Estamos longe disso e eu por mais que a aplauda não o faço, por comodismo? Sim. De qualquer forma, não acho que tenha menos direito que ela de protestar e de me insurgir contra a minha condição e especialmente contra a conduta primária e moralista do empregador/explorador. Este sim, o verdadeiro culpado pela situação precária e imoral que me obrigam a viver.

terça-feira

A esta hora estou quase sempre no meu segundo local de trabalho e como aqui as coisas são mais dessafogadas permite-me andar pela net a passear, já que tirando a navegação na net, durante a semana são escassos as alturas em que posso andar por ai!

Por isso, por não ter tempo para nada, por todos os dias desejar que por milagre os dias tenham mais umas horas, além das 24 que lhe são conhecidas sou meia máquina meia mulher. Porque por mais prazer que isto até me dê, habita-me uma dualidade terrível, ora quero cá estar, ora me apetece mandar tudo às urtigas.

A vida de máquina permite-me pensar pouco e sentir menos, dá-me a desculpa para ser excessiva no que me apetecer, sem que isso me incomode ou me faça pensar muito. Uma pequena recompensa que me dou, pela liberdade que tenho perdido de há uns tempos para cá. Dá-me a hipótese de chutar a bola para a frente.

Tudo isto, porque no fundo sei que não sou feita para ter esta vida. Às vezes passam-me coisas pela cabeça, tipo queria era morar num hárem, que a minha pessoa fosse posse de outra, apesar de racionalmente isso me enojar, manteria a minha mente e alma longe da ansiedade que o poder da escolha me dá. Não teria a posse de mim própria, mas quem a têm?
Porém, seria mais feliz na ignorância de outros mundos e escolhas.

Esta imagem apazigua-me. Se pudesse escolher, escolhia ser odalisca...