terça-feira
Os Grandes Portugueses é um programa inútil, nacionalista e pouco patriótico, já que mais uma vez a História nos é apresentada, desta feita escudada nas personalidades, como algo distante e pouco actual, sem lugar para as transformações vividas e operadas em Portugal no Século XX e que foram bastante importantes, já que explicam em muito a actual situação do nosso atrasado e acolhedor país.
Os Grandes Portugueses deriva directamente do programa concebido no Reino Unido, pela BBC: "Great Britons". Para os ingleses o Great Briton é Winston Churchill, estadista reconhecido do Reino Unido e que faz parte da História recente do mesmo país.
Como sempre e por cá, contínuamos a falar de D. Afonso Henriques, D. Sebastião e afins. Personalidades que marcaram o que somos como sentimos e muitos caminhos tomados, mas passaram muitos anos, séculos até. Muita água passou por debaixo da ponte e já nem os próprios se devem lembrar que aqui estiveram.
No primeiro programa, da primeira fase d´Os Grandes Portugueses viu-se o quanto o povo português sabe de História e a conhece com especial incidência para as gerações mais novas: uma menina de 15 anos dizia que a Maior Portuguesa de Sempre era a Bárbara Guimarães. Ah? Como disse? Então que é feito dos artistas, pintores, escritores, cientistas, desportistas, pensadores... que puseram Portugal no mapa e são mais facilmente reconhecidos no estrangeiro que no seu próprio país e que ainda se encontram entre nós? Realmente com respostas destas mais vale ficar lá bem atrás no passado. O pessoal já teve tempo para decorar os nomes.
Portugal tem avesso a grandes conquistas e feitos actuais e próximos do momento em que vivemos, porque existe gente tão portuguesa como nós que não se deixa abater pelo espírito pessimista que nos caracteriza, que não se deixa levar pelos Velhos do Restelo do burgo e contra ventos e marés faz coisas inovadoras e utéis.
Mas não, a RTP contínua a falar dos mesmos portugueses de sempre os de 1800 e troca o passo que mal ou bem contribuiram para a nossa História.
Como retaliação o Inimigo Público e o Eixo do Mal lançaram o desafio de eleger o Pior Português de Sempre. Quem é mais responsável pela choldra onde vivemos? Para mim é o próprio Povo português, que bem ao seu estilo, mais uma vez vai cair na História da carochinha e vai votar em massa no Maior Português de Sempre, aquele que se deixa levar por grandes espectáculos televisivos como este, pelos roadshows programados para promover o programa, pelas vaidosas Marias Elisas que depois de ter estado ligada a uma cor política não se incomoda em assumir o seu lugar na RTP, ao que parece cativo e que traz na bagagem este formato british que lhe acenta tão bem.
Sim, porque este programa tem recursos técnicos dignos da televisão do Estado, estratégias de promoção que usam todos os meios e mais alguns: rádio, spots publicitários, outdoors, mupis, cartazes pequenos de transportes públicos...toda uma parafenália de promoção.
Para apresentar o programa aos meios de comunicação social foi escolhido o Padrão dos Descobrimentos, volta ao passado, onde Maria Elisa aparece acompanhada com um rapaz mascarado de descobridor ou lá o que é. Porque é que o senhor não foi transformado em António Damásio? Na Rosa Mota? Na Joana, a maestrina menina prodígio que com aproximadamente 30 anos dirige as maiores e mais conceituadas orquestras do mundo? Não sei, parece-me que tínhamos tanta gente para salientar sem ser os eternos mortos que se engradeçe por cá que mais parece que gostamos de viver no passado e que são usados para nos atirar areia para olhos: vejam como nós fomos e não pensem no que nos tornamos!
No Pior Português de Sempre com humor e bom gosto, para uns, calculo que para muitos não, ao menos poderemos identificar aqueles que com o nosso consentimento já há muito desfizeram as glórias passadas.
A meu ver, deveríamos enquanto povo olhar e enaltecer os actuais grandes portugueses, gente dinâmica que contra os ventos, marés e fados lusos acreditam que podem fazer mais e que se empenham e entregam sem demoras e receios a novas ideias, iniciativas e projectos.
Podíamos com este programa iniciar uma discussão sobre a actualidade, uma discussão profunda e baseada no acertado conhecimento e cultura que a História nos dá como se de um motor de mudança se tratasse, já que quando se fala e debate a História nos media e nos livros da escola é só para enaltecer os feitos e glórias dos eternos heróis lusitanos.
Para que cada cabeça tenha a sua sentença e/ou voto:
http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/grandesportugueses/index.php
quinta-feira
quarta-feira
segunda-feira
De realçar o ênfase dado ao facto de Carlos Castro ser um homem culto e solitário, que tem por amigos chegados homens da cultura nacional e não só, que vive neste momento rodeado de fotografias, discos e livros.
Acho incrível como certas publicações conseguem tornar todos aqueles que retratam em ícones e isto tudo, porque o senhor faz 30 anos de carreira a favor da cusquice e comentário da vida alheia.
Admiro o facto de o senhor se ter esforçado para subir na vida e nunca se ter recusado a trabalhar, nem que fosse a lavar escadas como o próprio frisa e se não me engano, já frisou noutras alturas, acho bem que seja um homem culto e que apesar de todas as adversidades não tenho deixado de se rodear de livros e música. Também acho bem que tenha as suas fotografias e viva agarrado ao seu passado, cada um na sua. Mas daí a achar que este tenha feito alguma coisa verdadeiramente especial pela humanidade que não tenha sido viver a sua vida, discordo e que por isso, tenha direito a uma entrevista de fundo numa publicação dita de renome, também.
Quanto mais não seja porque este destaque dá-se ao facto do senhor ser um fofoqueiro profissional. É verdade que gosto de uma boa fofoca, mas não idolatro os seus profissionais porque o fazem bem ou porque foram pioneiros. Lembro-me, assim de repente, de tanta gente que teve histórias de vida bem mais interessantes que este senhor. Rompeu com preconceitos? Sofreu pressões? Foi praticamente abandonado pela família? Ok, tem toda a solidariedade do mundo, mas terá sido o primeiro ou o último a enfrentar o conservadorismo da sociedade em que vive, terá sido o primeiro ou será o último a enfrentar a resistências? Não mais que qualquer pessoa que queira levar a sua vida e vivê-la como sente e bem lhe apetece.