terça-feira

Este dia longo de mudanças e afins termina com poucas certezas e ainda mais mudanças. Pelos vistos, as mudanças não só feitas em caixotes e caixinhas disciplinadamente compartimentadas, são capítulos que se fecham e outros que começam, são vidas que terminam lado a lado.
Destas mudanças espero que venham dias melhores, novas descobertas e afectos, caminhos nunca dantes trilhados.
Vou passar a ter mais casas e núcleos para visitar, famílias que se alargam pelo bem de uns e tristeza de outros.

domingo

De caixa em caixa
Perdi o meu post de caixinhas, estou amuada. Sempre gostei de caixas de várias cores e formatos, de verga, plástico, cartão, vidro ou tecido. tenho uma série delas.
Há tempos, na Feira da Ladra descobri uma barraca só om caixas, ainda lá gastei uns euros, quando me decidi a gastar mais uns e sonhei durante horas com a próxima compra a barraca desapareceu. Acho que alucinei! Mas tenho a prova provada na caixa de chá com motivos orientais de como ela existe e já residiu durante muitas Feiras da ladra, apesar de eu ceguinha, só a ter visto uma vez.
Euros que poupei, sorrisos que não tive! Na minha colecção existem uma 10, as pequenas. Porque depois existem as maiores, algumas são caixas de sapatos. Também gosto dessas. Toda a gente mas dá. Gosto de guardar as coisas lá, por secções organizadas de tralha. Cassetes, fotografias, colares, pulseiras, papelada...
Tenho uma tia nova que me alimenta esta vício. Todos os Natais e aniversários me dá uma caixinha e até agora não me desiludiram. As várias caixas que fui tendo ao longo dos tempos reflectem a minha idade. Quando era miúda tinha umas feisosas, de lata e cores pirosas em forma de coração. Uma delas tenho desde sempre, uma forrada a tecido, da Indonésia, caríssima, que a minha mãe tentou vender na loja dela, não ficou exposta uma semana, já que durante 5 dias a atormentei e a venci pelo cansaço. A caixa era minha.
Na casa de Sampaio, lembro-me que a minha avó tinha uma série de caixas onde guardáva os almejados biscoitos. Prémio para quem tinha comido o almoço todo(sopa, comida e fruta). Chegáva-lhes em cima de um escadote, nas prateleiras altas demais para um miúda de 4 anos. Para ter os biscoitos comia a minha parte e dos primos, se tal fosse necessário.
Nos vários quartos que fui habitando, condição de filha de pais separados, tinha várias caixas diferentes. As da minha avó Lídia eram as mais luxuosas. Madeira com trabalhado de marfim e forradas a tecido vermelho vinho. A minha mãe tem uma linda cheia de fotografias, mal fecha e está meia torta, mas cumpre com o propósito das caixinhas, guarda tesouros. Do lado de fora, é um objecto de contemplação.
Gosto de engrossar a minha colecção e não perco uma oportunidade de trazer mais uma para casa, às vezes uma caixa de bolachas consegue aplacar o meu desejo, umas de cartão coloridas fazem a vez de qualquer caixa cara, tenho sempre alguma coisa para lá por, ainda não as tenho nas mãos e já sei que destino terão. E gosto de trocar o conteúdo várias vezes por ano. Gosto de procurar as minhas coisas e pensar que está naquela caixa que arranjei ali ou me foi dada por fulan@ tal. Os amigos da faculdade deram-me uma forrada com fotos nossas, as tardes, viagens e noites que vivemos nos 5 anos de curso. O que preciso de guardar, desta vez, está do lado de fora.

sexta-feira

O que foste e o que nos escondeste.
Hoje, enquanto andei pela Capital do Grande Império em missão, do Restelo ao Mercado de Arroios, lembrei-me de si. Era assim que chamava a Lisboa, do alto do seu mau feitio e personalidade conturbada e fechada, sempre que nos despediamos ao Domingo, depois do chá e das torradas.
Tenho pena que tenha levado consigo um espólio considerável de aventuras familiares e uma vida de saltimbanco, gostáva de me ter sentado a ouvir algumas das histórias que acabou por contar a quem lhe amparou os últimos dias. Pelo que ouvi, foram anos animados, histórias de paixões e amores arrebatadores, posições e atitudes que ninguém o veria a tomar. Memórias que lamento não conhecer. É verdade que não me pertencem, mas sem elas é como se nos faltasse tanta coisa. Já que partilhámos o mesmo sangue, nome e mais que isso, o marcante mau feitio e espero que não a personalidade conturbada, como não quis dizer mais que uns grunhidos e retoques desagradáveis?
Ao senhor fidalgo apenas lhe interessavam os patos e as galinhas, os campos de cultivo, os jardins e árvores frondosas da casa de Sampaio de Merlim. As crianças nunca foram o seu forte, servem para se mostrar e educar com rédea curta. Mas fique sabendo que apesar de tudo, guardo até hoje o cheiro a lavanda que corria naquele corredor fresco e sombrio da sua casa e o cobria desde a perna estragada até aos cabelos prematuramente brancos e também guardo a esperança, lá no fundinho das minhas crenças, que se existirem outras vidas nos vamos encontrar e me vai explicar o porquê de levar a vida que levou.
Em cada um de nós reside um bocadinho de si, as histórias que viveu moldaram-no e determinaram a forma como nos via e sentia. E tudo isso, contribuiu para o que sou hoje. Os pés de pato e tortos são seus, as manchas na cara também, o feitio desconfiado é culpa sua, a rudeza de espírito pertence-lhe, então porque me obrigou a apaga-lo?
Na minha arca dos afectos, em relação a si, passei por todas as fases, a que não compreendia nada e para mim eras mais um velho rezingão que às vezes me pegava ao colo e sempre longe de olhares suspeitos, o nada sentir, senão o medo que o teu olhar frio me provocava, a revolta por seres desagradável e mau. A opinião que não passavas de um velho conservador, fascista e que não representavas nada senão o que deveria ser combatido por todos nós: a intolerância e falta de amor pelo próximo, e pior, a falta de amor por ti, que te fechavas a todos e encaravas a vida como uma cruz pesada que carregavas.
No fim, cheguei a ter compaixão por um velho que queria apagar o que fez de mal, que queria reunir a família não por ser obrigação tua e nossa, mas porque até nutrias alguma afecto pelos "teus"! Nunca fomos teus, nem tu nosso, nunca me senti pertencente à tua vida, porém agora, quando me lembro de ti e procuro outros caminhos, tenho pena de não te ter ouvido como eras, de ter visto o que habilmente escondias de todos. De pelo menos ter conhecido partes da tua vida, das tuas memórias!
Para a posteridade fica a maldade que creio te tenha sido intrínseca.
Podias ter partilhado a sabedoria que acumulaste, as paisagens que viste, as conversas que tiveste, os caminhos que trilhaste e as gentes por quem passaste. No entanto, escolheste fechar todas as portas, escolheste o caminho fácil que é criar conflitos em vez de erguer pontes.
Pois fica sabendo que de ti também me devem ter ficado coisas boas, fica sabendo que não verti uma lágrima por ti e que o melhor que poderei fazer que honre a melhor pessoa que podias ter sido é não esquecer que somos feitos da mesma matéria e não deixar que essa ira irracional que anda à solta nos genes e história familiar tomem conta de mim como fizeram contigo.
E pronto, está resolvido o velho manco e rezingão!

quinta-feira

Só um apontamento de revolta: MAS PORQUÊ A PIZZA HUT ACHA QUE ME DEVE ENVIAR SMS´s TODOS OS DIAS?!!
Não quero, nem gosto assim tanto das vossas pizzas e além disso, em minha casa fazem-nas bem melhor, menos industriais e com mais amor. Não quero pizza, essa porcaria engorda e faz borbulhas na cara!
QUE PRAGA!
Espero que à semelhança de qualquer empresa que se preze esta também tenha um call center, vou ligar e pedir que me retirem da vossa lista!!
Hei-de estar no Burundi e saber que há promoções de pizzas 4 estações para toda a família, (ali no restaurante da Foz), que vendem as sinistras aberrações de pizza de bacalhau com natas ou doce de framboesa, tudo com umas coxas de frango a acompanhar. Odeio coxas de frango, deslarguem-me da mão.
A Cidade que me fez procurar

Hoje é o meu penúltimo dia de trabalho nos estudos de audiências e afins, sinto-me cansada e sugada dentro desta máquina! Apetece-me inactivar isto tudo.
Espero amanhã ser invadida pela excitação de não fazer nada, ter todo o tempo do mundo para mim e algum dinheiro no bolso.
Nos entretantos, mudanças e caixas, e declarações disto e daquilo e despedidas e o que andei a adiar: o até já à cidade que durante 6 anos me acolheu, uns dias tratou-me melhor que outros. Roubou-me energia e desfez-me ilusões, mas deu-me amigos, sítios especiais, vistas deslumbrantes, noites amenas e dias escaldantes.
Dias e noites que me vai continuar a dar, sempre que voltar sei que tenho um lugar na sua dinâmica e loucura, sei o que mais gosto nela, o que me faz sentir daqui. Reconheço a calma dos degraus de Alfama, a vista do Castelo, o jardim zoológico que é o Adamastor, a calma do rio e a luminiosidade aflitiva do estuário do Tejo, conheço os segredos que encerra Monsanto, a animação dos Santos Populares, os dias cinzentos de Inverno e os perigos da calçada portuguesa num dia de chuva, os recantos e tascas do Bairro Alto (sim, porque o que de melhor o bairro tem não são as suas lojas caras e falsamente cosmopolitas, mas sim os seus tasqueiros rudes e gentes desconfiadas. O Bairro não é um centro comercial!). As homenagens feitas à estátua, os jardins e miradouros que se debruçam no rio como quem quer ir mais longe, ver mais do que a vista alcança.
Vou inactivar o lar!

quarta-feira

Olhos que não vêem coração que não sente!
Dizia-me um possível participante no estudo de audiências que esta coisa de ter um programa instalado no computador com o seu conhecimento é um bocado chato, até é melhor quando não fazemos a mínima ideia do que se passa. Assim como assim, olhos que não vêem, coração que não sente!
Uma lógica que não consegui entender e que nem tentei explorar muito, apesar de a minha função ser exactamente a oposta, tentar perceber e convencer as pessoas a instalarem a dita aplicação.
Até me rio de vez em quando com as justificações que dou para que colaborem, mas uma resposta deste calibre deixa-me sem acção ou argumento que cole. Mais, com argumentos como estes nem eu quero participar em nada ou então, e senão me tivesse despedido no início do mês, seria agora.
No outro dia dizia uma senhora que sabe sim senhora que o filho instalou o programa no pc lá de casa e que sim senhora, se assinala correctamente na caixa dos "navegantes" e que segue isso como uma religião. Palavra puxa palavra e percebi que a senhora nem sabia porque fazia aquilo.
Cá para mim, se fosse parar à ilha do Lost seria o Locke lá do sítio. Inserir uns números num pc, sem saber porquê.
Ora, esta senhora punha o visto à frente do nome sem fazer a mais pálida ideia do que se trata e depois ainda me contou que tinha falado com o filho para saber se é realmente verdade que se se aceder a uns sites várias vezes por dia, é paga por isso. Pois, pensa a senhora que andam ai umas empresas (de confiança, portanto) que dão dinheiro a troco de clicks e visitas aos respectivos sites.
A banha da cobra, que pelos vistos, nem precisa de grande engenho oratório dos respectivos "trojões", já que as pessoas e na procura do lucro fácil, se deixam enganar e se enganam a si próprias, ou seja, já vão enganadas e convencidas e bem, pelas pessoas que melhor nos enganam, nós "los outros"!
Abençoado aquele que se lembrou das audiências e estatísticas, pois sem esta brilhante ideia não teria trabalho. Big up para o que de seguida, logo logo, logo achou que o telemarketing é que era!!

segunda-feira

Dizia aqui uma colega que as esteticistas do painel têm tendência a serem casadas com os camionistas!
Penso eu para os meus botões: que misturada, ela sempre impecável e loura, as unhas feitas, os sapatos da Seaside, as cores berrantes e alegres, tipo cor de rosas, verdes alfaces, as gangas com aspecto usado, por vezes as raízes um bocado aldrabadas e ele...o rei da autoestrada e qualquer itinerário secundário ou ponte deste mundo, barriguinha, camisa ao quadrados ou então a bela da camisola branca e as calças de ganga com o cinto a segurar o estômago saliente, aquelas conversas.
Ela delicada e ele um bruto à primeira vista, ela preocupada com os arranjos e as depilações e as fofoquices e ele o maior adepto da selecção, da mini e do prato de couratos!! Na volta até combina.
Ao pé de casa dos meus pais, mesmo em frente ao Porto de Leixões era comum quando era miúda dar de caras com os camionistas que frquentávam a tasca onde o meu pai toma café e onde tantas vezes lhe fui comprar cigarros. Ainda existe, a tasca do senhor Ribeiro, um tipo simpático que vende um vinho lá das suas propriedades fresquinho e bebível. Um senhor bem simpático e cómico q.b. Sempre cheio de camionistas, daqueles barrigudos e ordinários a cheirarem a camião.
Não tenho boas recordações do espécime. Estar na paragem de autocarro, qualquer que fosse, ali ao pé do Porto, sempre foi uma chatice. Lá passavam os camionistas, "óh boa! óh riqueza", mesmo eu não sendo uma top model e muito menos quando era adolescente. Sinais de luzes, buzinadelas, piscadas de olho. Fuck, chatos de merda. Os camiões mal estacionados, mesmo em cima das curvas ou à frente da paragem do bus. Muitas vezes perdi o autocarro para a escola porque não o vi lá ao fundo e porquê? Os camiões dos camionistas que estávam na tasca do Ribeiro a beber mais um mini não me deixávam perceber se o bus estáva a chegar, claro que quando, acelarradissímos passávam na minha paragem, nem me viam. Lá ficáva eu mais não sei quanto tempo a levar com os camionistas e à espera do autocarro.
As esteticistas? Pois, acho que são umas senhoras perversas e que noutra vida torturaram gente por esse mundo fora. É verdade que recorro aos seus préstimos, mas acho que nunca o conseguiria ser. Passar o dia a arrancar os pêlos das clientes com a cera quente, fazer o buço, usar a pinça, as bandas, as virilhas ... só de pensar fico aterrorizada. Sinceramente nem sei como lá consigo ir, aliás, acho que se contínuo a descorrer sobre o tema nunca mais lá ponho os pés. E o que me faz mais impressão são as esteticistas que arrancam os pêlos a si próprias.
Tive uma que pedia ao filho para lhe fazer a depilação, coitado do rapaz. Não me parece que seja uma actividade própria para um rebento. Acho que não faria a depilação à minha mãe, pêlos encravados, aplicação da cera em locais poucos ortodoxos...
Acho também, e depois de anos a fazer depilação, que as esteticistas não são boas da cabeça, tenho sempre impressão de uma mulher possessa a tirar pêlos com conversas que não lembram ao diabo. Aliás, a minha penúltima, era de fugir, desbragada e vulgar, ordinária que baste. Esta era a que pedia ao filho para lhe fazer o serviçinho, tinha conversas sinistras ao telefone com as amigas à minha frente, não é que me choque, mas pensei muitas vezes, enquanto estáva deitada na marquesa pronta para a matança: Por que raio preciso eu de saber que a senhora tem um vibrador ou que a amiga lhe quer dar um ou que a minha esteticista é uma louca!
As conversas dos camionistas pelo que me lembro não eram muito diferentes, se calhar estão mesmos bons uns para os outros e a minha colega até tem razão, os camionistas casam com esteticistas!

sexta-feira

E fui ver o que é a Fé "(...)é o mesmo que acreditar ou confiar; por algum motivo geral ou pessoal, por alguma razão específica ou mesmo sem razão bem definida, com ou sem evidências físicas" e depois vi e absorvi o que é a Força "força (F) é o único agente do Universo capaz de alterar o estado de repouso ou de movimento de um corpo" e esta é uma definição que pertence à Física e no entanto foi a que mais se apropriou ao que quero perceber do que é a Força que me governa.
Do vazio ou esticar a corda até ao fim.
Demorei horas a vestir-me, quando escolhi, escolhi uma saia leve e branca com um top de cores veraneantes e alegres e fui novamente à luta. Novamente sentei-me à frente de pessoas que não conheço de lado nenhum e que querem saber tudo sobre a minha vida (poucos fazem perguntas pessoais, de qualquer forma, são sempre relacionadas comigo e indirectamente acabam por saber mais do que gostaria de contar).
De um bar no Cais de Sodré ao escritório claro e agressivo da Av. 5 de Outubro, locais diferentes, habitados por gente tão diversa, as perguntas são sempre as mesmas; a minha motivação, a minha experiência, as minhas ambições a curto e médio prazo, o que gosto de fazer(?)...Nesta pergunta não consegui responder de forma totalmente sincera nas duas conversinhas. Já não sei responder, o querem que vos diga!
Gosto de não fazer nada disto, de procurar empregos que não me satisfazem, sim, gostaria de escrever todos os dias, gostaria de ter um emprego num jornal ou numa rádio, queria ser jornalista, mas lamento, não me lembro disso, especialmente quando estou na 500ª entrevista e me sinto sugada até ao tutano pela vossa curiosidade vampiresca, porque me esqueci de sonhar nestes meses largos que andei à procura de um caminho menos doloroso, um caminho onde o sol brilha mais e ganha às nuvens negras que se abatem sobre todos nós.
Sou eu que precisam, sou eu que vou marcar a diferença, sou eu que vou ser a funcionária ideal, blá, blá, blá! Rigorosa e dedicada, polivalente, flexível e motivada...para trabalhar até às quinhentas por tostão furado, motivada e polivalente para vos ver a encherem-se de dinheiro e mesmo assim serem uns tristes e desgraçados viciados no trabalho, flexível para poder aturar de cara alegre o mau humor e problemas emocionais de chefes menos simpáticos. Sim...pode ser, senão como vou ganhar o que me permite viver e esquecer que 5 dias por semana vos tenho que aturar!
As entrevistas, os processos de selecção, as perguntas, os currículos, o falso interesse, as salas impessoais, as empresas, as associações, as lojas, os callcenters, os quiosques, as publicações, as promessas de vida melhor e desafogada...tudo isto já me cansa!!
Porém, sabendo eu disto tudo, do que me faz sofrer as quinhentas portas que se me fecharam, as experiências menos boas, as noites mal dormidas e de agitação, as insónias e as horas excessivas de trabalho precário e pouco satisfatório e depois de ter no meu cérebro um mapa exacto de como é o mercado de trabalho e do que normalmente têm para me oferecer, não desisto.
E este impulso é tão incontrolável que todos os dias tenho a mesma rotina, verifico as páginas de emprego, envio currículos, respondo a emails, faço pesquisas e quando atendo os telefonemas, depois de ter enviado radiografias completas da minha vontade e força de ser mais do que sou, acredito como se fosse a primeira vez, de que é desta que irei começar, é desta que deixo os trabalhos mal pagos e inúteis que em nada me estimulam, acredito que vou conseguir um dia fazer alguma coisa que me torne mais realizada.
E quando saio de lá, daqueles enormes edifícios de escritórios, de salas refrescadas pelo ar condicionado e das pessoas com ar sisudo e distante como se esse fosse sinónimo de competência, a sensação é sempre a mesma. A de vazio, brutal, abismal, o nada ecoa dentro do meu peito, de tal forma é forte que não me deixa respirar.
E se amanhã me telefonarem para outra entrevista, se me solicitarem a exposição novamente...eu vou e acredito que um dia será o meu. Talvez esta força seja fé, talvez seja instinto de sobrevivência, mas acreditasse eu nesta força sobrehumana que me faz caminhar pela cidade de entrevista em entrevista, em todas as situações da minha vida e tudo seria bem melhor.
Acreditasse eu todos os dias que o Mundo pertençe aos que tentam, os que têm força e não a deixasse fugir quando me exponho e talvez não me sentisse tão vazia de ambições e sonhos. Sempre com uma fatiota leve e fresca.

terça-feira

Sean faz-me um filho!
Ontem fui ver o Sean Paul, foi o meu segundo concerto do moço e caramba que seca descomunal. O gajo deve ser um egocêntrico do pior que há, além de passar o concerto todo a mexer e remexer languidamente as ancas, passou o tempo todo de óculos de sol e a gritar pelas ladies de Portugale(sim, com a bela da pronúncia italiana).
Parece que imagino aquele gajo no quarto com a lady...ele a olhar para o espelho a gritar "all my ladies", possesso e de óculos de sol e ela a chamar por ele, o Sean Paul nada, I´m going lady, mais um bocadinho a olhar para o espelho. Como sou bom, mais uma linha de coca. "Ladies", au, au, au.
Gajo com um ego tão grande deverá certamente ser uma merda na cama. Imagino espelhos no tecto do quarto só para controlar egocentricamente a performance. Aquele papel de sex-symbol não é nada credível, tem ar de palhaço e só já deve saber viver na passadeira vermelha.
Desconfio de tanta languidês. Como dança sempre com as ancas para fora e se rebola todo, ao andar normalmente tem postura de troglodita, nada sensual. Além disso, é caprichoso, manda tudo para o chão. O Sean Paul não me convence!
Senti-me numa plateia da MTV, imensa gente de câmara e telemóvel na mão apontados para o palco, fotografias no meio do público, gritos histéricos e cartazes a pedir danças particulares com o Sean. Esqueçam, ele só sabe gritar ladies! E o melhor de tudo, vozes femininas e palmas gravadas.
Se existir uma próxima vez levo um cartaz a pedir para o Sean me fazer um filho e já me sentirei menos deslocada da plateia, até lá, risquei o Sean da minha lista dos gajos bons ou para não exagerar, os gajos aceitavelmente giros!