Porque estão as casas furadas à face da linha do comboio?
Quando nasci estavas lá para me dar o primeiro sorriso, a primeira palavra, para me aconchegares nos teus braços e corpo grande. A tua menina. Foste tu que me escolheste o nome. Depois quando os nossos caminhos se separaram, tu continuavas lá. Eu pequenina no teu colo, as fraldas e o biberão a saírem do teu casaco...íamos pelo caminho, no comboio cresci a perguntar porque é que as casas estavam furadas à face da linha de comboio, tu tentavas dar-me uma explicação que eu compreendesse, mas eu nunca me dava por contente com a resposta que me davas naquele dia e no fim de semana a seguir perguntava novamente, à espera de a resposta ser melhor.
Porque estão as casas furadas? Hoje, tenho 25 anos e ainda gosto de andar de comboio, de ver as casas furadas a passarem a alta velocidade pela janela do comboio. A razão para as casas estarem furadas já conheço e até sei dar uma justificação vinda da minha cabeça. Esse problema ainda me atormenta, porque ficam as casas furadas? Porque ficamos nós também furados e com vazios pequeninos?
Mas tu agora já não me tentas dar respostas às minhas dúvidas, achas que já cumpriste o teu papel. Por vezes, dizes-me que sou melhor que tu. Não, sou igual a qualquer um, igual, com furos, falhas e tudo mais.
As casas furadas atormentam-me na mesma, porém já não andamos de comboio, já não vemos as paisagens a passar a alta velocidade em frente aos nossos olhos.
Não sei se te desiludi, se esperavas mais, não sei porque não falas, não estás presente e por isso, és o meu maior furo, a minha casa está furada!
Quando um dia já não houver mais tempo para nós, quando o teu tempo tiver passado sei que vais ver que as nossas casas estão furadas, porém, nesse momento vai ser tarde demais para taparmos o furo.
1 comentário:
Tenho duas estúpidas lágrimas a escorrerem-me pelas bochechas gordas abaixo...
Porque às vezes este fenómeno de aglomeração de letras forma uma amálgama que toca onde mais nada toca.
Sabes, Mariana, todas as casas são furadas. As casas longe da linha de comboio também. E as perto do mar. E as da montanha. E as de férias... As casas são furadas. Às vezes de um lado, às vezes do outro. Às vezes dos dois.
Os furos tapamo-los nós, com o crescer, com o ganhar distÂncia. Com o entender que quem nos devia pÔr betume, faz, na maior parte das vezes, o melhor que pode. São os betumes que são maus, Mariana... Somos nós, que na hora de cimentarmos as casas que construirmos ao lado de linhas de comboio, auto-estradas ou aeroportos vamos criar nelas outros buraquinhos ou buracolas.
Crescer dói. Fazer crescer, imagino que também.
Nunca desiludirás ninguém, não creio. Continuarás a ser um ser pequenino nos braços, ainda que imaginários, de alguém de braços grandes.
É que às vezes os braços são grandes mas não nos conseguem dar todo o colo que necessitamos. NEm pedir, se precisarem das nossas mãos com cheiro a biberão ou fralda. As nossas mãos de gente pequena que cresceu...
Enviar um comentário