quarta-feira

Quero escrever, agora quero escrever, só me apetece escrever... A escrita além de ser um exercício óptimo, é também uma forma de deitarmos cá para fora tudo o que nos vêem à cabeça. Já pensei andar com um gravador na mala e poder dizer tudo o que me apetece, apesar de não ser escrita é um exercício tão libertador como o primeiro.

Comentários, pensamentos de que ordem sejam, impressões. Andar nas ruas de uma cidade é estimulante a nível cerebral e sentimental, pelo menos quando estamos predispostos para tal. As pessoas, os carros, as casas, os cães, as árvores, os jardins, apesar de serem poucos nestes contextos urbanos, até a falta deles nos podem fazer pensar e querer protestar, dizer como a falta de espaço para os peões, nas cidades e vilas portuguesas é um atentado à nossa própria existência.

Como a circulação selvagem dos carros nos condiciona a caminhada pela cidade e o gozo que dela podemos tirar. Como os outdoors publictários por vezes nos levam para lugares tão longínquos daquela artéria barulhenta e poluída. E esse é um direito nosso, o de podermos expressar os pensamentos e sentimentos a cada momento que passa. Daí o gravador.

Deveria haver uma série de placards gigantes com caneta para os caminhantes poderem exprimir e partilhar a sua impressão sobre uma tarde na rua. A sua passagem pela avenida, a paragem na montra dos saldos, o cócó dos cães, as bicicletas, os carros no meio do passeio ou somente o dia radioso de sol que os acaricia. O calor abrasador e polúido dos centros urbanos. Os dias cinzentos de chuva, os céus carregados e as trovoadas, bem como as poças das ruas que nos encharcam quando esperamos os autocarros e sobretudo, os atrasos constantes do autocarro.

Tudo isto e muito mais me passa na cabeça quando estou a andar. A andarilhar pela ruas que sinto que já não são dos caminhantes. São das obras intermináveis, do carros em cima do passeio, dos caixotes do lixo, do entulho e de todas as manifestações de falta de civismo que possamos imaginar. Ao que se junta o ar congestionado e porco que respiramos.

Mesmo assim, caminhar é das actividades mais relaxantes que conheço, logo se juntasse o caminhar ao gravador, poderia encontrar uma verdadeira terapia anti-stress.

No fim, tería a cabeça livre. Só de pensar fico com vontade de andar, mas como não posso escrevo.

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