Diz-me aqui uma colega que não sou moça para ficar em casa...diz ela. Até ficava, mas não numa casa qualquer, queria a minha casa de Milfontes com terraço, fresquinho lá dentro e calor abrasador lá fora.
Esta sensação quase de norte de África é o que mais me recorda o Alentejo e os tempos em que vivia e passava férias na minha terra. Minha terra porque fui lá que cresci, não porque me sinta identificada com aquelas pessoas, mais porque tenho memórias remotas e salgadas...
No entanto, é dificil apagar da minha memória as idas à praia de bicicleta durante todo o ano, muito vestida ou não, a praia era omnipresnte. Rebolar pelas dunas, fazer corridas de bicicleta, ver os rapazes a mergulharem do pontão dos pescadores, apanhar gafanhotos no quintal da escola para depois soltar na sala, durante a aula (os meus colegas eram gunas e eu também), esperar ansiosamente pelos dias de Verão e pela chegada dos amigos e amigas sazonais.
Aliás, quando comecáva a época balnear, o que no Alentejo em anos quentes, era a partir da Páscoa, ficava toda contente à medida que a minha rua, uma urbanização de casas todas iguais e branquinhas com faixas a toda a volta, ora azuis, ora amarelas ou vermelhas, se enchia de carros, a rua ganhava outra vida durante os tempos de praia.
O resto do ano a rua era deserta, tinha no máximo 4 carros durante todo o Inverno, vivam umas 3 familias e uns quantos solteiros, dois ou três na minha urbanização, a do Monte da Rosa, nº 31. Como o fado e que fado!
Nas férias de calor a rua enchia-se de miúdos como eu, bicicletas, patins, bonecas e todos os objectos possíveis de levar para a praia. Ao fim do dia enquanto brincávamos, ainda de fato de banho e descalços, os adultos lavavam os carros e as nossas bicicletas e até os putos lá tomavam banho. Os banhos de mangueira ou chuveiro eram frequentes naquele bairro. Cada casa térrea tem um chuveiro no pátio e todos os dias, durante o Verão, quando o sol se põem às 8 da noite, a minha rua albergava um riacho que corria até ao jardinzito.
Jardim interessante esse, as jardineiras desse jardim eram e são as senhoras detidas do estabelecimento prisonal de Odemira, até ai tudo bem, durante o Inverno e porque há pouca gente e aquele é uma bairro sossegado, as donas jardineiras plantávam plantas de cannabis, lool, ao lado das laranjeiras. Laranjeiras que nunca foram nada de especial, lá se foi a imagem romântica da música do Rui Veloso, "roendo uma laranja na falésia", lá para os lados de Porto Corvô...
E a praia? A praia do Malhão, extensos areais protegidos por dunas cheias de vegetação lilás, castanha, verde e vermelho vinho com uma série de pássaros bonitos e raros, segundo os especialistas, caminhos de terra batida, praias quase inacessiveis com bicas de água doce e rochedos como castelos.
Na praia do Malhão mais bonita, a dos nudistas, porque é de dificil acesso, acampava sempre uma família de espanhóis gigantesca, aproveitávam a bica de água doce, bem mais viva que nos dias que correm e construíam cabanas na praia ao lado das tendas. Gigantesca porque eram vários amigos com os respectivos filhos, de todas as idades, que tinham um ar de selvagens e eram-no, tipo os meninos perdidos. Para mim era bom encontrá-los claro está, mas não percebia nada que diziam o que não os impedia de me tentarem afogar e coisas que tais...
Ao fim do dia chegáva exausta a casa, antes disso parávamos nas banquinhas de fruta que estavam na estrada e que agora já não existem, pelo menos naquele caminho e comiamos morangos e melão. Os dias de praia ocupávam todo o tempo, ora no Malhão com a minha mãe e os meninos espanhóis, ora com o meu avô Moreira na praia do rio. Foi ai que aprendi a nadar e que fui ao meio do rio com o meu primo quando estáva maré baixa e andei de canoa, tentáva...Era gordinha, redondinha como uma foquita e o barco desequilibráva-se, o Inti ficáva furioso.
Com a pele enrugada da água fria do rio e curtida pelo sol, os pés cheios de areia fui feliz e ainda sou. Este é o meu estado de graça, quando a minha pele sabe a sal e os meus olhos reflectem a cor do mar.
4 comentários:
escreves mesmo bem!
Tenho muito orgulho em ti!
Tenho a certeza que vais conseguir um lugar ao sol na tua vida profissional!xanda.
hey mariny! :] só passei aqui mm a correr, prometo comentário mais demorado em breve, ok?
todavia ñ queria deixar de te dizer q tinha vindo, pq com tanto q fazer e tantas voltas de um lado pro outro, nem tenho tido tempo de responder a mails, nem nada...
eu tou bem, tu tb me parece fixe e espero ver-te no próximo fds, sim? pués, venga...! beijoooooo
Tens de ir de férias sua guninha! :P
já saiu a tua entrevista na ruadebaixo.com!!!!
parabéns guninha (como diz o Jorge)!!! beijos
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