Contínuo a dar-lhe na Revolta dos Pasteís de Nata hoje dedicado inteiramente às mulheres e como não poderia deixar de ser, a plateia é composta exclusivamente por mulheres. Homens "só" o apresentador, a banda, o pessoal da produção que vai dando as caras, os gajos que fazem os momentos humorísticos e os sketchs.
Confesso que nunca vi este programa até ao fim, bocadinhos apenas, de qualquer forma, e depois de já ter visto algumas entrevistas feitas ao apresentador, contínuo sem perceber a pertinência do programa em questão. Hoje, em escassos minutos, confirmei que o rapaz é um imbecil e o programa uma inutilidade. Ao perceber qual era o tema da semana confesso que fiquei mais alerta sobre o mesmo e até vi mais do que o costume.
Vamos lá discutir a igualdade das mulheres na sociedade portuguesa, tudo a propósito da nova Lei da Paridade proposta pelo PS. Propõem-nos então, que descorramos sobre a Mulher Portuguesa e o seu papel em todos os quadrantes da respectiva vida pública. As convidadas: a actriz Maria do Céu Guerra, Teresa Caeiro, deputada do CDS e a convidada faltosa e Miss Playboy, Liliana Queiroz. Será que a mulher portuguesa está devidamente emancipada, perguntam-nos os cérebros por trás do show?
Para rir concerteza. A forma como é abordada a questão é trivial e leviana, ao tentar imprimir um ar sério e descontraído à conversa, aparece um actor a fazer de striper, o único homem a intervir. Os sketchs transmitem uma imagem preconceituosa e fácil da mulher, várias caricaturas são mostradas num Tempo de Antena fictício de responsabilidade feminina: as da pele esticada, com a Lili Caneças, a incontornável Odete Santos, que dá sempre jeito satirizar quando se fala de igualdade entre os sexos, a Merche Romero a representar as boazonas vazias...e por aí diante. Pois bem, não sei se a Merche é vazia e tonta só por ser boa, não sei se a Lili teria um movimento para defender as peles esticadas, sei é que são apresentadas as mulheres enfiadas em categorias e caixas como se uma mulher só pudesse ser ou esticada ou vazia, ou interventiva e chata, malditas feministas.
Desse bicho de sete cabeças pouco se fala no programa, como se pode falar da emancipação sem falar do feminismo e a sua importância pelo menos histórica para a emancipação da mulher? Como querem ser levados a sério quando nos apresentam as feministas como umas doidas a queimar soutians, descontextualizando totalmente o famoso episódio.
Também me incomoda, enquanto mulher e feminista, não tenho qualquer problema em assumir, que se discuta a condição da mulher apenas e só com mulheres, guetização primária do género "querem falar sobre vós e a vossa condição, então façam-no sozinhas nós deixamos".
As intervenções das convidadas não atam nem desatam, dizem-nos o que já sabemos, discordam entre si, uma a favor da lei da paridade outra contra, advinhem quem! A Liliana, essa nem vê-la, no seu lugar colocam um exemplar do livro que editou para nos ensinar a Ser Sexy, estou mesmo a ver o painel de pessoas que construiram ali: a actriz mulher de esquerda e liberal, a deputada do CDS, mais conservadora, mas que não deixa de ser mulher moderna: trabalhadora e mãe e a Liliana, a menina fútil, Miss Playboy, não há mais a dizer, a mulher objecto.
No início do programa a Ana, a colaboradora/assistente aparece bem despida e provocante, vestido vermelho colante e introduz mediocramente o passatempo promovido pelo programa, pistas para ganhar um telemóvel de última geração. Mais descrição para quê, apesar da ambição ou não de tornar esta conversa informal e descontraída, numa pseudo reflexão sobre a condição da mulher, o formato do programa em questão é machista e chauvinista, aproveita-se do tema para se auto-promover a programa irreverente e revolucionário, acabando por cair nos clichés de sempre e por revelar que quem o idealiza é machista que baste, seja mulher ou homem e que a revolta dos Pastéis de Nata é um embuste, up grade ranhoso do Muita Lôco da ida década de 90.
Esclarecid@s sobre o lugar da mulher na sociedade? Nada. Fiquei foi esclarecida quanto ao facto de estes senhores serem uns machistas, pseudo revolucionários e que produzem um produto medíocre fruto dos marketeers da revolução, sanguessugas da luta e emancipação em nome das audiências e do fast thinking.
A Revolta dos Pastéis de Nata é transmitido todas as quintas-feiras, pelas 23 horas no canal A Dois e ao contrário do que disse no post anterior, vai na 4ª temporada!
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