segunda-feira

Conteúdo freak!
A Pública desta semana tem como capa o Carlos Castro conhecido como talvez o primeiro comentador português do social e numa entrevista de fundo o jornalista explica-nos porque devemos gostar da personagem. A sua vida díficil, a aventura para subir a pulso na vida e sempre de forma honesta e valorosa, de quem suou as estopinhas são as principais razões. A vinda de África e de uma cidade onde ninguém o entendia, inclusive a família, o serviço na guerra colonial tudo isto acompanhado por testemunhos e fotografias de gente conhecida da praça a dizer bem do senhor são outros argumentos esgrimidos.

De realçar o ênfase dado ao facto de Carlos Castro ser um homem culto e solitário, que tem por amigos chegados homens da cultura nacional e não só, que vive neste momento rodeado de fotografias, discos e livros.

Acho incrível como certas publicações conseguem tornar todos aqueles que retratam em ícones e isto tudo, porque o senhor faz 30 anos de carreira a favor da cusquice e comentário da vida alheia.

Admiro o facto de o senhor se ter esforçado para subir na vida e nunca se ter recusado a trabalhar, nem que fosse a lavar escadas como o próprio frisa e se não me engano, já frisou noutras alturas, acho bem que seja um homem culto e que apesar de todas as adversidades não tenho deixado de se rodear de livros e música. Também acho bem que tenha as suas fotografias e viva agarrado ao seu passado, cada um na sua. Mas daí a achar que este tenha feito alguma coisa verdadeiramente especial pela humanidade que não tenha sido viver a sua vida, discordo e que por isso, tenha direito a uma entrevista de fundo numa publicação dita de renome, também.

Quanto mais não seja porque este destaque dá-se ao facto do senhor ser um fofoqueiro profissional. É verdade que gosto de uma boa fofoca, mas não idolatro os seus profissionais porque o fazem bem ou porque foram pioneiros. Lembro-me, assim de repente, de tanta gente que teve histórias de vida bem mais interessantes que este senhor. Rompeu com preconceitos? Sofreu pressões? Foi praticamente abandonado pela família? Ok, tem toda a solidariedade do mundo, mas terá sido o primeiro ou o último a enfrentar o conservadorismo da sociedade em que vive, terá sido o primeiro ou será o último a enfrentar a resistências? Não mais que qualquer pessoa que queira levar a sua vida e vivê-la como sente e bem lhe apetece.
É retornado e fofoqueiro? Arranjo uma dúzia! O mais incrível é que este senhor diz alto e bom som que criou monstros, aliás é esta a chamada de capa, em úlitma análise é culpado pelo aparecimento da Esla Raposo e de todos esses parasitas. Não abona nada a seu favor.
Não acho que devemos apenas ouvir intelectuais ou sabichões, mas isto não passa de uma estratégia sublime, ou não, de alimentar a futilidade e o nada que povoa a imprensa e televisão cá do burgo. Se estamos nessa vamos lá até ao fim, venham os Carlos Castros da vida.
Será por ser gay? Por ter vivido no mundo alternativo/out dos homossexuais? Por estar envolvido com os travestis? Ainda pior, é assustador perceber que afinal o que é "diferente" e "foclórico", porém sem conteúdo é o que alimenta as páginas da revista.
Não tenho nada contra os gays ou coisa que o valha, e exactamente por isso é que acho atroz ver este senhor retratado como uma atracção freak. Como é gay ou coisa que o valha é lhe permitido todo e qualquer desvairo.
Pior ainda, apesar de tudo o que viveu e supostamente leu, contínua a ser conservador e preconceitoso, basta ler um parágrafo das suas crónicas semanais nas revistas.

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